Leandro Lacca, diretor de 'Seu Cavalcanti', faz filme tocante sobre o avô
'Docuficção' do cineasta pernambucano estreia nesta sexta-feira (12/9) no UNA Cine Belas Artes
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Siga noDurante 20 anos, Leonardo Lacca filmou o avô. Tamanho trabalho resultou no filme “Seu Cavalcanti”, descrito pelo cineasta pernambucano como “docuficção”. A carinhosa imersão no cotidiano do patriarca, homenagem às raízes familiares, poderá ser conferida sexta (12/9), sábado (13/9) e terça-feira (16/9), às 13h50, no UNA Cine Belas Artes.
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O filme é narrado por Leonardo, como se estivesse falando com Seu Cavalcanti e descrevendo seu ponto de vista conforme os fatos acontecem.
“No início, eu não sabia muito bem o que estava fazendo. Só descobri que estava fazendo um filme sobre você uns cinco anos depois”, diz o neto ao nonagenário Severino Cavalcanti.
“Fiquei com a câmera da faculdade na minha casa, então tive o ímpeto de filmar meu avô. Começou como um exercício para enquadrar, para testar, para brincar com o equipamento, mas a questão é que foi com ele. Tinha um magnetismo pelo que a figura dele representava para mim, também por achar meu avô muito interessante, carismático”, conta Lacca.
Naquele lar, em meio a santos, cruzes, fotografias de família, cadeiras de madeira e com o som da televisão ao fundo, a simplicidade do cotidiano de Seu Cavalcanti é fascinante e hipnotizante. O carisma daquele senhor pode ser percebido nos detalhes: do carinho em Nina, cadela da família, ao cochilo da tarde.
Barba, cabelo e gravata
Seu Cavalcanti era extremamente vaidoso. Diversos cortes o mostram se barbeando, penteando o cabelo e se preocupando em dar o nó corretamente na gravata.
O relacionamento do protagonista com o Uno Mille é um capítulo à parte. Naquele carro, ele pôde viver aventuras, mesmo dirigindo “muito mal”, nas palavras do neto, durante a narração. As cenas do avô dirigindo são encantadoras, devido ao olhar amoroso e curioso do diretor, além de divertidas pelas piadas e brincadeiras entre os dois.
“O filme é também o registro da minha vida. Da minha vida como cineasta, da vida do meu avô, de pessoas da minha família. Registra também o Brasil, de certa forma”, afirma Leonardo Lacca.
Algumas cenas são fictícias, encenadas e improvisadas. Outras não. Leonardo revela que o avô concordou em atuar. Entrou de cabeça na aventura ao lado do neto.
“Ele logo topou. Várias vezes, dizia para mim: ‘Eu sou seu pai’. Brincava muito comigo, no sentido de topar minhas aventuras”, relembra.
A edição final juntou imagens fragmentadas, sem ordem de continuidade, o que resultou num filme repleto de autenticidade. A ideia era filmar “algo que não tivesse rótulos”, diz o diretor.
A dinâmica familiar se destaca na "docuficção". A relação entre Seu Cavalcanti e Tereza, mãe de Leonardo, é revelada com sensibilidade.
Lacca diz ao avô: “Aos poucos, minha mãe foi virando sua mãe, você foi virando filho dela e eu, seu irmão. O que um irmão faz com o outro? Tira onda. Então, às vezes, parece que assumi papel de irmão do senhor.”
Missão cumprida
Seu Cavalcanti demonstra orgulho da vida que teve, da trajetória como comissário da Polícia Civil e da família que construiu.
“Eu sou muito feliz, porque minha filha e meus netos nunca me deram desprazer na minha vida. Até ontem, nunca tive desprazer. Nenhum é beberrão, fumador, safado. Todos bem empregados, formados, é por isso que eu tenho saúde”, afirma.
Parcerias
Entre os parceiros de Lacca estão o pernambucano Kleber Mendonça Filho, diretor premiado em Cannes por "O agente secreto", e a produtora Emilie Lesclaux. Contracenam com Seu Cavalcanti as atrizes Maeve Jinkings e Tânia Maria, que trabalharam com Mendonça nos filmes "Aquarius" e "Bacurau". O filme estreou em Minas, na edição da Mostra de Cinema de Tiradentes realizada em 2024.
A parceria entre os diretores é de longa data. Leonardo trabalhou como diretor assistente e preparador de elenco em diferentes filmes de Kleber, incluindo "O agente secreto", sua produção mais recente.
O longa dedicado a Seu Cavalcanti, que chegou a ver alguns trechos, é uma celebração do amor familiar. As cenas finais reforçam sua presença, mesmo depois de sua morte, em 2016.
“A vida continua, as coisas continuam a acontecer e eu continuo a filmar o senhor. Aí fico me perguntando: quando parar de filmar o senhor, quando parar de apontar a câmera para o senhor, quando parar de filmar você?”, afirma Leonardo Lacca, ao final do longa.
“SEU CAVALCANTI”
Filme de Leonardo Lacca. Sessões nesta sexta-feira (12/9), sábado (13/9) e terça (16/9), às 13h50, no UNA Cine Belas Artes (Rua Gonçalves Dias, 1.581, Lourdes). Ingressos: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia-entrada), à venda na bilheteria e na plataforma Velox Tickets.
* Estagiária sob supervisão da editora-assistente Ângela Faria