Festival de Cenas Curtas começa; temas incluem questões femininas e racismo
Em sua 26º edição, 16 trabalhos de cinco estados além de Minas serão apresentados a partir desta quarta (10/9), no Galpão Cine Horto
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Siga noEm sua 26ª edição, o Festival de Cenas Curtas do Galpão Cine Horto apresenta, a partir desta quarta-feira (10/9), uma radiografia das tendências presentes no atual panorama das artes cênicas no país. Após a abertura, ontem (9/9), quando foram apresentadas cenas convidadas, criadas por alunos de escolas de teatro de Belo Horizonte, o público confere, de hoje até sábado (13/9), quatro cenas curtas concorrentes a cada dia. Todas as sessões serão realizadas no Teatro Wanda Fernandes do Galpão Cine Horto, sempre a partir das 20h.
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Os 16 trabalhos selecionados pela curadoria – formada por Bramma Bremmer, Chico Pelúcio, Eli Nunes, Marcos Alexandre, Marcos Coletta e Michele Bernardino – vêm de cinco estados, além de Minas Gerais: São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Paraná e Amazonas. Afora as cenas curtas em competição, esta 26ª edição do festival conta com rodas de conversas com críticos
A seleção dos trabalhos que concorrem este ano foi feita a partir de um conjunto de 216 inscrições, vindas de 51 cidades das cinco regiões do país – um dos maiores números da história do festival, segundo seu idealizador e coordenador geral do Galpão Cine Horto, Chico Pelúcio. Ele considera que esse volume expressivo de artistas e grupos interessados em participar resulta de uma soma de fatores.
Evento consolidado
“Uma primeira coisa é a volta do teatro, de modo geral. As casas estão cheias, com um público significativo comparecendo, o que é um sintoma muito bom dessa retomada, do reencontro do teatro com o espectador. A segunda coisa é a visibilidade que o Festival de Cenas Curtas ganhou ao longo dos anos. Ele é hoje um evento consolidado no Brasil inteiro. Recebemos inscrições de praticamente todos os estados do país. É muito bacana perceber isso”, diz.
Um slogan serve de temática para a nova edição: “Persistir é uma cena. Existir é uma peça. Resistir é uma sina”. A ideia é evocar uma dramaturgia da sobrevivência, com criações que carregam em si a urgência de estar em cena num mundo em crise, de acordo com Pelúcio. Ele diz que a temática é um pouco o resumo do que é a história do teatro na civilização ocidental.
“Ele existe e vai continuar existindo pela necessidade do ser humano de se ver representado, então resistir é uma sina. Existir é a condição fundamental para que isso aconteça. Persistir diz respeito aos entraves, aos cenários mais difíceis que já enfrentamos, passando pela pandemia e por esse governo que tivemos, que tentou incriminar os artistas, a arte e toda manifestação da cultura brasileira”, destaca. Ele observa que, com 26 anos de existência, o próprio Festival de Cenas Curtas espelha essa temática.
Trocas e influências
Pelúcio ressalta que o evento comprova a pertinência das ações continuadas. “Podemos acompanhar os resultados que ele provoca nas artes cênicas em Minas Gerais e no Brasil, com os desdobramentos, o desenvolvimento da cena e a formação de artistas. As linguagens do teatro foram se transformando ao longo desses 26 anos”, diz. Ele chama a atenção, ainda, para a possibilidade que o Festival de Cenas Curtas oferece de se perceber as diferenças culturais entre as regiões do país.
“Temos o sotaque estético e artístico de cada território representado dentro das cenas curtas. São elementos que proporcionam um encontro mais criativo de trocas, de influências, de colaboração, de fortalecimento e de reflexão sobre o que se faz em Minas, no Ceará, no Rio Grande do Sul, na Bahia”, pontua. Ele adianta que os trabalhos que serão apresentados nesta 26º edição tratam, em boa medida, de questões femininas e de racismo, mas, no geral, há um equilíbrio de temáticas e linguagens.
“A questão LGBTQIAPN+, por exemplo, já foi predominante em anos anteriores, e agora está mais diluída. Uma curiosidade é que temos mais drama do que comédia”, diz. Ele considera que esse dado reflete os problemas e as tensões que o Brasil e o mundo atravessam. “Essa sociedade de extremos em que estamos vivendo, com pouco diálogo e muita discórdia, acaba ressoando nas expressões artísticas, de modo geral. É um chute, mas me parece natural que o teatro se volte para o drama”, comenta.
Programação
Hoje (10/9)
• “Sol & sombra – Segunda hora” – Belo Horizonte
• “Quando eu te encontrar” – Belo Horizonte
• “A margem” – São Paulo
• “Zona zoom zum” – Belo Horizonte
Entreatos: Vizinhas das Cantigas
Quinta (11/9)
• “Esú – A boca do universo” – Cariacica (ES)
• “Quando o carnaval chegar” – Rio de Janeiro
• “O menino e o farol” – Belo Horizonte
• “Labirinto” – Belo Horizonte
Entreatos: Família de Rua
Sexta (12/9)
• “Entreliça” – Belo Horizonte
• “Axé” – Rio de Janeiro
• “Peixe pra dois” – Belo Horizonte
• “Papisa Joana” – Manaus
Entreatos: “Tropa Los Brabo”
Sábado (13/9)
• “Confluência: cantos do rio que lembra” – Tatuí (SP)
• “Três porquinhos na encruzilhada do morro” – Belo Horizonte
• “Pelo avesso” – Curitiba
• “Naquele baile” – Belo Horizonte
Entreatos: “The Vogue Way”
26º FESTIVAL CENAS CURTAS DO GALPÃO CINE HORTO
Desta quarta-feira (10/9) até sábado (13/9), com apresentações sempre a partir de 20h, no Galpão Cine Horto (Rua Pitangui, 3.613, Horto). Ingressos: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia). Entrada gratuita para pessoas trans e para o público PCD. “Encontros com a crítica”, de quinta-feira (11/9) ao próximo domingo (14/9), às 17h30, com entrada franca. Festa de anúncio dos vencedores, com as Piranhas Controladoras, no sábado (13/9), às 23h, com ingressos a R$ 15.