Jeferson Tenório lança ‘De onde eles vêm’ em BH
Escritor é o convidado desta quarta-feira (10/9) do Sempre um Papo e conversa com o público sobre o novo livro, que sucede o premiado ‘O avesso da pele’
compartilhe
Siga noO escritor Jeferson Tenório lança nesta quarta-feira (10/9) em Belo Horizonte seu mais recente livro, “De onde eles vêm”, que será tema do Sempre um Papo. Em março do ano passado, ele participou do projeto numa edição que tratou dos episódios de censura contra sua obra anterior, “O avesso da pele”.
Leia Mais
Ambientado por volta dos anos 2000, o novo romance de Tenório tem como pano de fundo o ingresso dos primeiros cotistas nas universidades brasileiras. Assim como seus livros anteriores, “De onde eles vêm” aborda temas como preconceito, luta, exclusão e sonho, desta vez por meio do personagem Joaquim. Órfão, desempregado, sem dinheiro e tendo que cuidar da avó doente, ele alimenta um empedernido amor pelos livros e pela literatura.
Trama do livro
O personagem cumpre uma jornada feita de obstáculos em um momento em que políticas públicas para amenizar desigualdades eram vistas como problema, não como possibilidade de solução. O autor diz que a ideia de abordar esse tema é anterior a “O avesso da pele” (2020). “É difícil saber quando um livro começa, porque a gente acaba pensando nele por muito tempo”, diz, destacando que o desejo de escrever “De onde eles vêm” remonta a meados de 2017 ou 2018.
Ele recorda que, naquele momento, havia ainda uma discussão acesa sobre a política de cotas. “Achei que seria oportuno escrever sobre o universo acadêmico, saindo um pouco da questão da violência racial, falando mais da produção intelectual de pessoas negras e periféricas”, afirma. Tenório considera que as cotas representaram uma revolução silenciosa na sociedade brasileira. Ele explica que o livro fala disso, ao mesmo tempo em que faz uma avaliação do que a adoção dessa política pública representou.
Resultado das cotas
“O que temos de resultados, de pessoas negras ocupando espaços de liderança na sociedade, tem a ver com a política de cotas. A universidade sempre foi o lugar que só a elite branca conseguia acessar. Hoje temos um outro cenário. Eu também fui cotista”, destaca. Tenório diz que empresta algumas de suas vivências para Joaquim, e que os escritores, no geral, se nutrem das próprias experiências para criar os personagens. “Joaquim é um pouco quem eu gostaria de ter sido na idade dele”, diz.
Ele entende que o debate acerca da questão racial teve avanços importantes ao longo dos últimos 25 anos. A mudança mais significativa, conforme diz, foi o reconhecimento, por parte da sociedade, da importância das políticas públicas. “Há uma gramática antirracista muito mais próxima da população hoje em dia. A questão do racismo é discutida de forma mais aprofundada. Isso não significa que ele não esteja presente na sociedade, que ainda é, sim, muito racista”, observa.
Escritor foi alvo de censura
Os episódios de censura contra “O avesso da pele” – que foi recolhido de escolas públicas no Paraná, em Goiás e no Mato Grosso do Sul pelas respectivas secretarias de educação, sob o argumento de que teria “linguagem imprópria” – redundaram num aumento de 400% nas vendas do livro. Tenório acredita que isso ainda possa ter repercussões no lançamento de sua nova obra. “Procuro desvincular um livro de outro, mas não posso negar que o que aconteceu atiça o interesse das pessoas.”
Ele pondera, contudo, que essa curiosidade gerada por uma polêmica, por si só, não leva a lugar nenhum. “Independentemente de qualquer coisa, o livro tem que ter um convencimento literário, estético”, aponta.
A censura continua rondando Tenório. No início de junho, ele teve sua conta no Instagram, com 80 mil seguidores, desativada sem explicação – apenas recebeu da Meta, empresa responsável pela rede social, a mensagem de que tinha sido banida por “não se enquadrar nas diretrizes da plataforma”.
“Acredito eu que tem a ver com o momento político, com esse julgamento histórico em curso, que vai servir para educar o Brasil. A conta foi excluída semanas depois de eu ter escrito um artigo comparando Jair Bolsonaro a Donald Trump. O que aconteceu com 'O avesso da pele' e com minha conta do Instagram é reflexo do que vivemos hoje em dia”, diz Tenório. Ele criou um novo perfil, que tem pouco mais de 3,2 mil seguidores, até o momento.
Reação contra a Meta
Em junho passado, Jeferson Tenório fez um vídeo falando da exclusão de sua conta no Instagram, feita sem explicações por parte da Meta. “Em um contexto eleitoral, é conveniente que vozes progressistas e de esquerda sejam silenciadas”, disse o autor, que já deixou outras redes sociais, como Facebook e X.
“Estou cansado de falar sobre censura, mas é crucial estarmos atentos ao rumo que essas plataformas estão tomando”, complementou. Seus advogados anunciaram que tomarão “todas as medidas cabíveis para responsabilizar a empresa”, uma vez que a exclusão arbitrária “reduz drasticamente o alcance de seu trabalho, prejudicando sua atuação como escritor, educador e figura pública”. Eles classificaram o ocorrido como “uma grave violação à liberdade de expressão e ao direito à comunicação”.
JEFERSON TENÓRIO NO SEMPRE UM PAPO
Lançamento do livro “De onde eles vêm”, nesta quarta-feira (10/9), às 19h30, no Teatro José Aparecido de Oliveira, da Biblioteca Pública Estadual (Praça da Liberdade, 21, Funcionários). Entrada gratuita.