Artes cênicas

Peça "O amante" mostra marido e mulher em jogos de poder e fetiche

Espetáculo inspirado em texto de Harold Pinter, Nobel de Literatura, faz temporada até domingo (14/9), no Teatro da Cidade

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Para apimentar a relação, um casal emprega jogos de fetiche e cria personagens. Marido e mulher fingem ser amantes um do outro, encontrando na estratégia uma forma de fugir dos padrões sociais. No entanto, à medida em que vão mais a fundo na fantasia, começam a questionar o porquê de só se sentirem bem fingindo ser outras pessoas.

Esse é o dilema central da peça “O amante”, em cartaz no Teatro da Cidade desta sexta-feira (12/9) a domingo (14/9), sempre às 20h. Com direção de Luiz Otávio de Carvalho, a montagem estreou em 2023 – trata-se da versão brasileira do texto homônimo do britânico Harold Pinter (1930-2008), vencedor do Prêmio Nobel de Literatura em 2005.

Frequentemente associado ao Teatro do Absurdo – cujo principal expoente é Samuel Beckett e tem como premissa abordar a solidão humana numa linguagem muitas vezes sem lógica e de maneira não linear –, Pinter deu ao movimento características próprias ao priorizar o cotidiano em vez de situações existenciais extremas.

Em sua dramaturgia, os conflitos aparecem nas tensões subentendidas, nos silêncios, ambiguidades e jogos psicológicos. Justamente o que ocorre em “O amante”.

Disputa

Sarah (papel de Lorena Jamarino) e Richard (Ítalo Araújo) negociam constantemente desejo e prazer na busca por satisfação individual. “Há um intenso jogo de poder na peça”, confirma Lorena. “Uma hora, a Sarah perde. Outra hora, é o Richard que perde. Eles estão o tempo todo disputando poder dentro dessa relação, mas não de maneira escancarada”, ela diz.

O conflito está, principalmente, nos comportamentos dissimulados dos dois e nas frases recheadas de ironia, que, no fundo, revelam a insegurança do casal. Sarah e Richard frequentemente desconfiam um do outro. A mulher chega até a perguntar ao marido como está a amante dele, ao que Richard responde: “Está muito bem”.

O diálogo, no entanto, não é suficiente para deixar claro se existe, de fato, um relacionamento extraconjugal. O público também fica na dúvida sobre a relação de Sarah com o leiteiro (Samuel Macedo), que passa na casa do casal todas as tardes. Seria apenas amizade ou há algo mais? Pinter deixa essa pergunta em aberto.

Sem respostas

“Sarah é uma mulher que, apesar de vir de família de classe média alta e ter sido preparada para o casamento tradicional, não consegue seguir essas regras. Ela está sempre buscando fugir dos padrões que lhe foram ensinados e procura ter prazer sem se submeter a julgamentos ou comandos masculinos”, diz Lorena.

Já Richard é o típico “macho alfa”, que provê a esposa. “Os dois formam um casal que a gente consegue enxergar na classe média, que tem relação clássica e dita normal”, comenta Ítalo.

“Eles partem d relação normal e se deparam com as consequências de ultrapassar a linha conjugal que mantinham, de modo que a relação se torna quase animalesca”, destaca.

“O amante” não entrega respostas. A peça provoca, instiga e convida o espectador a mergulhar no próprio entendimento sobre desejo, relações e limites.

Entre jogos de poder, silêncios e frases ambíguas daquele casal, o espetáculo reforça que toda relação carrega questões como “O que é fantasia?”, “O que é realidade?” e, acima de tudo, “Quem está realmente no controle?”.

“O AMANTE”

Adaptação do texto de Harold Pinter. Direção: Luiz Otávio de Carvalho. Com Lorena Jamarino, Ítalo Araújo e Samuel Macedo. Desta sexta a domingo (12 a 14/9), às 20h, no Teatro da Cidade (Rua da Bahia, 1.341 – Centro). Ingressos: R$ 60 (inteira), R$ 40 (meia solidária, mediante doação de 1kg de alimento não perecível) e R$ 30 (meia), à venda na bilheteria local ou pelo Sympla.

OUTRAS PEÇAS

>> “OS IRMÃOS KARAMÁZOV”

Adaptação do clássico de Fiódor Dostoiévski estrelada e dirigida por Caio Blat, ao lado de Marina Vianna. A peça “Os irmãos Karamázov” será apresentada nesta sexta (12/9), às 20h, no Centro Cultural Unimed-BH Minas (Rua da Bahia, 2.244, Lourdes). Entrada franca, mediante retirada de ingresso na bilheteria do teatro a partir de duas horas antes do espetáculo.

>> “ONDE A GENTE VAI MORAR?”

Com a chegada do segundo filho, casal procura apartamento maior. Quando finalmente encontra a casa ideal, perde o negócio para outro comprador. Essa é a síntese da peça “Onde a gente vai morar?”, que será apresentada neste domingo (14/9), às 19h, no Teatro Francisco Nunes (Parque Municipal Américo Renné Giannetti, Avenida Afonso Pena, Centro). Ingressos: R$ 40 (inteira) e R$ 20 (meia), à venda na bilheteria local ou no Sympla.

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