Nicolas Behr transforma a dor do cerrado em poesia
Leia poemas de 'EnCerrado', livro com reflexões sobre a destruição do bioma brasileiro. Lançamento em Belo Horizonte será no próximo sábado (20/9)
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que o cerrado não nos perdoe
que todos os rios sequem
que o grande deserto
tudo cubra
que as sete pragas
virem quatorze
que o homem morra
*
qual rumo tomar?
em que direção crescer?
depois do nó, como seguir?
a árvore se dobra
sobre a própria dor
*
capim-flechinha
é o cupido
dos cupins
dos campos gerais
ai de mim alecrim
não te amo mais
*
adentrei o cerrado
afogado em capins
náufrago no mar
de morros
outros irão ainda mais longe,
de braçadas,
se ainda houver
não haverá
volte
*
passar o dia
escrevendo poemas
mas a semente
me chama
vem, me enterre,
molhe meus olhos
cuidarei de você
e, quando crescer,
serei testemunha
da sua passagem
entre nós
*
o que eu
não disse
sobre
o cerrado
as cinzas
dirão por mim
“EnCerrado”
• De Nicolas Behr
• Impressões de Minas
• 104 páginas
• R$ 60
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Lançamento em Belo Horizonte no próximo sábado (20/9), das 16h às 21h, em bate-papo do autor com Rogério Tavares e leitura de poemas com o projeto sonoro/literário Manuscrito. Espaço Impressões (Rua Bueno Brandão, 80, Floresta). O livro pode ser adquirido também no site da editora.
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Sobre o autor e o livro
Nascido em Cuiabá em 1958, Nicolas Behr viveu até os 10 anos de idade em fazenda no norte de Mato Grosso, no município de Diamantino. “Tive uma infância feliz no meio de um ambiente selvagem que virou soja e capim”, lembra o poeta, radicado em Brasília e um dos expoentes da geração mimeógrafo com livros como “Iogurte com farinha” e “Chá com porrada”. Ajudou a criar a primeira ONG ambientalista da capital federal e fez parte do quadro da Funatura – Fundação Pró-Natureza. Mantém, desde 1992, o Pau-Brasília, viveiro de plantas e produz mudas de espécies nativas do cerrado. “Tenho cerrado nas veias. Este livro é a tradução poética de tudo o que sei e sinto sobre esse fantástico bioma, a savana com maior diversidade biológica em todo o mundo”, afirma Nicolas Behr. “O grito do cerrado virou lamento. Sinto muito. O cerrado também”, constata no final da edição de “EnCerrado”, que tem projeto gráfico de Mário Vinícius e fotografias de Truman Macedo.