NOVELA

'Guerreiras do sol', Isadora Cruz e Alice Carvalho brilham na TV brasileira

Rosa e Otília, interpretadas com destemor e doçura pela paraibana Isadora Cruz e a potiguar Alice Carvalho, mudam o imaginário do cangaço em 'Guerreiros do sol'

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“O sertão tem vereda que inverte o destino”, avisa um dos personagens de “Guerreiros do sol”, um dos grandes destaques do audiovisual brasileiro em 2025. O protagonismo feminino em uma história de cangaço é um dos principais diferenciais dos 45 capítulos da produção do Globoplay.

Na trama de George Moura e Sergio Goldenberg, inexistem mocinhas românticas e sonhadoras a reboque de ações masculinas. Há, sim, mulheres destemidas e astuciosas, dispostas até a pegar em armas para mudar a trajetória a elas imposta e conquistar um lugar ao sol do Nordeste no início do século 20. No grande sertão brasileiro, entre áridas veredas, elas traçam o próprio destino.

Com todo o fascínio trazido pelo cangaceiro Josué (Thomás Aquino, na melhor interpretação da carreira) e a repulsa provocada pelo antagonista Arduíno (Irandhir Santos, mais uma vez assombroso), cabe às personagens femininas, em especial a protagonista e narradora Rosa (Isadora Cruz) e sua irmã, Otília (Alice Carvalho), o brilho maior de “Guerreiros do sol”.

Duas mulheres correm no sertão nordestino em cena da novela Guerreiros do sol
O mundo das mulheres nordestinas ganha destaque na novela 'Guerreiros do sol', cuja trama não se limita aos embates masculinos em torno do cangaço Estevam Avellar/Globo/divulgação

“Sobretudo no terço final da novela, as mulheres passam a ser o centro da trama e a busca de Rosa pela filha faz a história se ampliar e ganhar um novo norte. É uma alegria e um prazer falar dessas novas mulheres, que, na verdade, já existiam desde muito antes de saírem da sombra, num mundo masculino e agreste onde foi forjado o cangaço”, afirma George Moura ao Estado de Minas.

Pernambucano radicado no Rio de Janeiro, George lembra que personagens femininas fortes caracterizam os trabalhos que assinou anteriormente com Sergio Goldenberg na Rede Globo: as séries “O canto da sereia” (baseada em romance de Nelson Motta), “Onde nascem os fortes”, “Onde está meu coração” e o remake de “O rebu”, de Bráulio Pedroso. Por isso, diz, foi natural que elas também estivessem à frente da trama e de seu tempo em “Guerreiros do sol”.

“Desta vez, a escolha foi ainda mais aguda, tendo Rosa como a narradora desta saga, um épico de amor e vingança”, observa o autor. “Por conta dessa escolha para a novela, em algumas passagens tomamos a liberdade de fazer um cangaço não exatamente como ele foi, mas como ele também poderia ter sido.”

O comentário de George Moura se torna mais pertinente diante da historiografia do cangaço. Em “Guerreiros do sol: o banditismo no Nordeste do Brasil”, livro de não ficção que “emprestou” o título para a série, a participação feminina no cangaço é minimizada, e até depreciada, pelos que vivenciaram a história.

“No meu tempo, não havia mulheres no bando. Mulher só podia trazer más consequências, dividindo os homens, fazendo o grupo brigar, por ciúme ou outro motivo qualquer. Fiquei muito admirado quando soube que Lampião havia consentido que as mulheres ingressassem no cangaço. Eu nunca permiti. Nem permitiria”, contou o cangaceiro Sinhô Pereira ao historiador Frederico Pernambucano de Mello.

Autor do livro, o historiador cita as mulheres como “fator de desagregação, dissensões internas e de esfriamento do ardor combativo.”

Atores Isadora Cruz e Thomás Aquino, vestidos como cangaceiros, estão abraçados na novela Guerreiros do sol
Rosa (Isadora Cruz) desafia a sociedade do sertão nordestino para acompanhar Josué (Thomás Aquino). O casal é inspirado em Maria Bonita e Lampião Estevam Avellar/Globo/divulgação

Lampião

“‘Guerreiros do sol’ não é biográfico, mas livremente inspirado em fatos ocorridos nos anos 1920 e 1930, no sertão nordestino”, lembra George Moura. Para construir a saga de Rosa, Otília e outras personagens, ele e Goldenberg se inspiraram em diversas histórias reais, “sobretudo as de mulheres que estiveram no bando de Lampião e tiveram as suas vidas, de amor e luta, ofuscadas pela presença masculina”, ressalta George.

Maria Bonita, casada com Lampião, e Dadá, companheira de Corisco, são algumas delas. “Maria Bonita foi uma das poucas mulheres que entraram para a vida do cangaço como escolha própria, muitas foram sequestradas pelo bando, violência banalizada”, pontua o roteirista.

A luta pelo direito ao voto feminino, o relacionamento amoroso entre duas mulheres (a Otília, de Alice Carvalho, e Jânia, interpretada com segurança e sutileza por Alinne Moraes), o estigma trazido pela descoberta de um câncer no seio... A abordagem nuançada dos roteiristas e da direção para questões sensíveis é outro grande acerto. Além, claro, das cenas de cumplicidade afetuosa entre Rosa e Otília, autênticas “guerreiras do sol”, que compartilham segredos, traumas e sonhos do primeiro ao último capítulo.

“Deus deu à gente o direito de mudar de vida”, diz Rosa à irmã, na abertura. “Não tenho medo do futuro, mas só peço uma coisa: quando ele vier, que venha de frente”, sentencia no epílogo a narradora – e dona – da história.

Jogo de troca

“Rosa e Otília são irmãs inseparáveis que se completam”, define George Moura. “Diante de uma reviravolta em suas vidas, elas ficam ainda mais próximas e fazem um amoroso jogo de troca de virtudes e defeitos. Nas suas jornadas heroicas, ambas saem transformadas, Rosa vira um pouco Otília e vice-versa”, complementa.

“A novela é também uma história de irmãs e de sororidade, com empatia, apoio mútuo e compreensão”, acredita o autor, que elogia a atriz paraibana Isadora Cruz e a atriz potiguar Alice Carvalho.

“Elas não interpretam Rosa e Otília, elas são: duas atrizes de um talento ímpar, que explodem na tela com aridez e doçura”, elogia Moura.

George Moura: 'Tenho fascínio por personagens femininas'

Roteirista George Moura sorri
Globo/divulgação

Como surgiu a ideia de conferir protagonismo feminino em uma produção audiovisual ambientada no período do cangaço?

Tenho fascínio por personagens femininas, ainda mais quando são protagonistas. Se pensarmos nas obras que eu e Sergio Goldenberg fizemos juntos para televisão, é possível constatar que “O canto da sereia”, “O rebu”, “Onde nascem os fortes” e “Onde está meu coração” têm uma mulher como protagonista. Então, foi natural que, em “Guerreiros do sol”, elas também estivessem à frente da trama e de seu tempo. Desta vez, a escolha foi ainda mais aguda, tendo Rosa (Isadora Cruz) como a narradora desta saga, um épico de amor e vingança. Por conta dessa escolha para a novela, em algumas passagens tomamos a liberdade de fazer um cangaço não exatamente como ele foi, mas como ele também poderia ter sido. “Guerreiros do sol” não é biográfico, mas é livremente inspirado em fatos ocorridos nos anos 20 e 30, no sertão do Nordeste.

Como avalia o desempenho das atrizes Isadora Cruz e Alice Carvalho nesses papéis? O fato de serem atrizes nordestinas facilitou a compreensão das personagens?

Com certeza, a genealogia de Isadora e Alice trouxe a naturalidade do sotaque nordestino, a graça e a força das referências das mulheres fortes de suas respectivas famílias. Elas não interpretam Rosa e Otília, elas são. Duas atrizes de um talento ímpar, que explodem na tela com aridez e doçura.

E as outras personagens femininas? O que destacaria nelas e em suas intérpretes?

Jânia (Alinne Moraes) dá a volta por cima e ilumina outras mulheres do sertão que estão à sombra da opressão masculina. É o caso de Valiana (Natália Dill), mulher que enfrenta o câncer, num tempo em que a doença ainda era um grande e assustador enigma, como, de alguma maneira, ainda se mantém. Já a Soraia (Carla Salle) se envolve com o vilão Arduíno (Irandhir Santos) e supera uma relação abusiva, ganhando a liberdade buscada com sua força própria. Sobretudo, no terço final da novela, as mulheres passam a ser o centro da trama. A busca de Rosa pela filha faz a história se ampliar e ganhar um novo norte. É uma alegria e um prazer falar dessas novas mulheres, que, na verdade, já existiam desde muito antes de saírem da sombra, naquele mundo masculino e agreste onde foi forjado o cangaço.

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