Isadora Cruz levou para 'Guerreiros do sol' sua ancestralidade nordestina
A protagonista Otília carrega o legado das mulheres fortes e trabalhadoras da família da atriz paraibana, que desafiaram o machismo e o patriarcado
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Siga noA paraibana Isadora Cruz buscou na própria família inspiração para interpretar Rosa, a protagonista de “Guerreiros do sol”. “Toda a minha ancestralidade vem de mulheres muito fortes e trabalhadoras que, mesmo numa época em que elas não tinham nem vez nem voz, desafiaram o patriarcado e o machismo”, revela a atriz de 27 anos.
Ao encarnar com desenvoltura a destemida e astuciosa narradora da história, Isadora se tornou um dos grandes destaques da novela assinada por George Moura e Sergio Goldenberg, disponível no Globoplay.
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Nascida em João Pessoa, Isadora Cruz passou quatro anos da infância em Miami, nos EUA. “Foi quando tive o meu primeiro contato com arte ao fazer balé”, conta. Quando voltou ao Brasil, entrou numa escola de dança de jazz e pisou no palco pela primeira vez.
“Eu amava aquele universo, mas via como uma fonte de felicidade e não como uma possível carreira, porque ninguém da minha família trabalhou com arte. O primeiro artista que conheci que vivia disso foi (o pintor) Flávio Tavares. Fiquei encantada ao conhecer o ateliê dele, um marco na minha vida.”
Este espaço, na capital paraibana, foi escolhido por Isadora para gravar entrevista para o “Fantástico” – ela está na nova abertura do programa dominical de variedades.
Isadora Cruz identifica “guerreiras do sol” na própria família: “Minha avó por parte de mãe, Lurdinha, teve três filhas (Rachel Cruz, mãe de Isadora, entre elas) e sempre pregou que as mulheres tinham de ter a própria carreira, com independência financeira, sem depender de casamento. Por parte de pai, minha avó trabalhou até os 75 anos como cabeleireira e a mãe dela também era trabalhadeira, só que na roça, com uma história parecida com a de Rosa (personagem da atriz). Então, a minha ancestralidade toda vem de mulheres muito fortes e trabalhadoras, que mesmo vivendo numa época em que as mulheres não tinham nem vez nem voz, desafiaram o patriarcado e o machismo”, narra.
Ainda em João Pessoa, descobriu um oásis de arte e conhecimento no Zarinha Centro de Cultura, a menos de 200m da praia de Tambaú.
“Foi onde encontrei o meu clã de pessoas que realmente gostavam de estudar português, literatura, ler Machado de Assis e Guimarães Rosa. Aprendi a escrever, colocar minhas ideias e meus pensamentos em palavras para contar histórias e descobri novos universos através de livros e filmes.”
Testes na TV
Depois de largar o curso de administração no primeiro ano, iniciou a trajetória artística que incluiu estudos em Paris e uma longa temporada em Los Angeles. Isadora Cruz, então, passou a fazer testes para a tevê. Quase participou da primeira temporada de “Justiça”, série de Manuela Dias dirigida por José Luiz Villamarim e exibida em 2016.
A estreia na Globo veio no mesmo ano com “Haja coração”, novela de Daniel Ortiz. Já a primeira protagonista foi Candoca, de “Mar do sertão” (2022-23), ambientada no Nordeste.
“Foi um projeto muito lindo, porque eles adotaram o meu sotaque, o paraibano, como o sotaque comum da novela, o que é raro, né? A gente vê muito sotaque baiano, pernambucano, mas o nosso sotaque não”, lembra. “Tenho orgulho de contar, com muita verdade, a história do meu povo, da minha cultura, das minhas raízes”, destaca.
Ela emendou o final das gravações de “Mar do sertão” com a preparação de “Guerreiros do sol” após teste com Thomás Aquino, já escalado para o principal papel masculino, o do cangaceiro Josué.
“Foi um desafio enorme, porque tinha acabado de fazer uma heroína nordestina, de 2022, e passei para outra heroína nordestina, mas de 1920, com a força de uma futura cangaceira”, lembra.
“A trajetória de Rosa é de descoberta como mulher e de todas as possibilidades que existiam e as que não existiam; Rosa criou novos mundos para ela, mundos que as mulheres nem sonhavam que era possível naquela época”, acredita. “É muito bonito ver uma história tão nova, tão moderna, tão contemporânea, mas que se passa em 1920.”
Cumplicidade
A atriz afirma enxergar no protagonismo de Rosa um significado especial. “Pude representar a geração de mulheres que lutaram tanto antes de mim para eu estar aqui hoje, vivendo de arte, nesse lugar”, diz Isadora.
A atriz destaca a cumplicidade desenvolvida com a colega potiguar Alice Carvalho, que interpreta Otília, irmã de Rosa. “A gente fez uma escolha muito forte de deixar que a relação entre as duas irmãs fosse imaculada. Alice foi um porto seguro para mim. Aprendi muito com ela, é uma amiga que vou levar para o resto da vida. E, realmente, não teria Rosa se não fosse Otília”, afirma a paraibana.
Ao concluir as gravações de “Guerreiros do sol”, ganhou elogios pela interpretação de Rochelle, espevitada suburbana carioca em “Volta por cima”. “Foi uma missão enorme. Eu sabia que havia uma responsabilidade muito grande não só de realmente representar as Rochelles cariocas, e elas poderem se ver em mim, mas também de fazer o mercado enxergar em nós, atores nordestinos, muito mais possibilidades além do que é esperado, fora dessas caixas em que o mercado coloca a gente”, ressalta.
Novela sertaneja
Isadora Cruz, em breve, voltará à tevê como protagonista. Agrado, cantora de música sertaneja, é um dos principais papéis da próxima novela das sete, “Coração acelerado”, ambientada em Goiás.
“Vou viver uma personagem com sotaque totalmente diferente, com o qual não tenho contato no meu dia a dia. Então, é um desafio ainda maior do que interpretar uma carioca. Como não canto nem toco violão, estou no processo de aprender e melhorar a minha voz para poder cantar”, revela.
A atriz paraibana planeja, no futuro, seguir os passos de empreendedor do pai, Victor Hugo Rocha. “Tenho vontade muito grande de ter minha própria empresa, minha própria marca, de produzir”, revela. “Sinto também uma veia de diretora que ainda quero explorar na minha carreira”.
Assim, ela prosseguirá na tradição familiar de “mulheres fortes que buscam a sua liberdade e gostam de quebrar paradigmas”. Até lá, seguirá buscando papéis desafiadores.
“Existem várias mulheres e vários universos dentro de mim para serem explorados, conhecidos e descobertos por mim mesma”, garante a atriz, de 27 anos.