"Invocação do mal 4" fecha ciclo como um marco do terror contemporâneo
Longa dirigido por Michael Chaves equilibra sustos, respeito à paranormalidade e uso bem dosado de efeitos especiais
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Siga noA série de longas-metragens “Invocação do mal” é provavelmente a mais interessante do cinema de horror contemporâneo. Nela, vemos casos de possessão demoníaca investigados pelo casal de pesquisadores formado por Lorraine Warren e Ed Warren, aliás, Vera Farmiga e Patrick Wilson.
“Invocação do mal 4: O último ritual” é o quarto e último longa, pelo que indica até mesmo o título. É também o segundo não dirigido por James Wan, idealizador da série que retorna aqui como produtor. A incumbência foi confiada novamente a Michael Chaves, que dirigiu o terceiro longa, “A ordem do demônio”.
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Nesta quarta investida contra espíritos malignos de todas as espécies, Lorraine e Ed precisam resistir à decadência física e mental causada por anos de embates contra o mal, incluindo o infarto de Ed, para solucionar mais um caso de possessão.
Estamos em 1986 e os investigadores decidiram não mais se envolver nos casos. Ficam só nas palestras que agora atraem apenas uma dúzia de gatos pingados, e mais interessados na chacota do que em possessões demoníacas.
Só que desta vez é diferente. Bem, é sempre diferente, como eles mesmos dizem repetidamente por toda a série. Mas tem de fato um ingrediente mais cruel que o habitual. Eles simplesmente não podem recusar o caso, pois a filha deles, Judy, desta vez interpretada por Mia Tomlinson, está envolvida de corpo e alma no caso.
A ideia é interessante, costurada com alguma competência. Tem ligação com o primeiro caso do casal Warren, quando Lorraine, grávida, é enfeitiçada por um espelho demoníaco, tendo antecipado o parto de sua filha. Judy nasce morta, mas, por algum milagre, renasce. Só que os espíritos malignos que possuíam o espelho vão querer cobrar a dívida.
Nisso lembra um pouco a série “Premonição”, em que o caminho letal traçado pela morte precisa ser concluído de alguma forma. Lembra também, no que é parecido com os outros da série, um filme de terror do século passado, quando os eventos demoravam mais para acontecer.
Essa talvez seja a maior qualidade do quarto longa: acentuar um aspecto familiar já presente desde o primeiro. Há uma outra, que é de toda a série: a necessidade de explicações científicas para o que não pode ser explicado pela ciência. Há sempre a investigação de um caso paranormal, não apenas uma luta do bem contra o mal.
Efeitos especiais e sobriedade
No longa anterior, havia ainda movimento interessante de tentar certa independência dos efeitos especiais em direção a uma linha mais detetivesca, de mergulho em arquivos e capacidade de dedução. Foi um caminho interessante e não muito bem aceito.
Ao mesmo tempo, havia uma espécie de retorno à sobriedade do primeiro longa, com o que esse retorno poderia ter de repetitivo sendo atenuado, ou mesmo contornado pelos novos aspectos introduzidos.
Em “Invocação do mal 4”, temos de novo um afastamento e um retorno, ambos bifurcados. O afastamento dos efeitos especiais continua. Não significa que os efeitos estejam ausentes, mas são dosados com maior cuidado, evitando a inflação de efeitos do segundo longa.
Acontece também o afastamento das investigações, aqui reservadas ao momento de sumiço da filha, é ela que investiga uma morte, enquanto o filme fica temporariamente focado na superação de Ed e Lorraine.
Os retornos são igualmente interessantes. Há um na trama, que envolve nova informação: o primeiro caso dos Warren, em 1964, e o parto problemático da filha Judy. O longa estabelece, então, uma ponte temporal entre eventos separados por mais de 20 anos.
“Jump scares”
Há outro retorno, este na forma: os chamados “jump scares”, os terríveis sustos que provocam pulos dos espectadores nas poltronas. Eles aparecem timidamente no terceiro longa, o que parece ter incomodado bastante alguns fãs ortodoxos do gênero. Voltam com força neste último longa, quase ao nível do segundo, até então o que mais abusava do procedimento.
Se for mesmo o último longa da franquia, o que é sempre de se duvidar na indústria de cinema, a série “Invocação do mal” terá fechado o ciclo de maneira coerente. É um feito a ser festejado no horror contemporâneo. (Sérgio Alpendre/Folhapress)
“INVOCAÇÃO DO MAL 4: O ÚLTIMO RITUAL”
Reino Unido/EUA, 2025, 135min. De Michael Chaves, com Vera Farmiga, Patrick Wilson e Mia Tomlinson. Em cartaz nas redes Cinemark, Cineart, Cinépolis e Cinesercla.