4º Semana do Corre Contemporâneo movimenta BH
Calma Clima, o primeiro grupo para a prática do esporte na capital, promove evento que celebra a corrida como prática cultural
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Siga noEntre os dias 16 e 22 de setembro, a capital mineira será palco da 4ª Semana do Corre Contemporâneo, que irá ocupar espaços do município com uma programação que contempla a prática de yoga, rodas de conversa, lançamento de documentário e até festa - mas, claro, sem deixar de lado a corrida.
Organizado pelo Calma Clima, um dos maiores grupos de corrida do Brasil, o nome do projeto surge como uma alusão a um evento crucial para o lançamento do modernismo brasileiro, a Semana de Arte Moderna em 1922.
O atleta e jornalista Bernardo Biagioni, também idealizador do Calma Clima, conta que a ideia para o evento foi motivada pela vontade de trazer um olhar para a corrida na sua forma mais contemporânea e viva, sem performance ou qualquer tipo de disputa.
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“O projeto nasce de uma ideia de entender a corrida como uma expressão cultural, uma expressão artística. Para além do esporte existe toda uma vivência do território, seja na própria cidade, seja correndo pelas bordas, pelas trilhas”, conta. “Durante sete dias, não só corremos todos os dias, mas também temos programações paralelas para poder celebrar a corrida”, complementa.
“Crew Love”
Nesta edição, a Semana do Corre Contemporânea homenageia os ‘running crews’ (grupos de corrida) - movimento que promove uma forma de correr livre e coletiva, sem trajeto, distância e ritmo obrigatórios. As ‘crews’ desconstruíram o conceito de corrida tradicional, esporte, muitas vezes, visto como solitário.
“O nosso tema é ‘Crew Love’, movimento do qual fazemos parte como grupo de corrida. As crews de corrida é um movimento global hoje. Queremos lançar luz sobre isso, sobre os tantos movimentos hoje, não só em BH, mas no Brasil e no mundo, que estão ressignificando a forma de correr”, explica Bernardo.
“É uma ocupação espontânea da cidade, do espaço público. Estamos lá fora sempre para poder celebrar a nossa cidade. A ‘Semana do Corre Contemporâneo’ veio para ficar. A nossa intenção não é só falar de esporte, mas também falar dessa cultura muito importante que é o corpo, o pedestre, o corredor”, finaliza.
Programação
A programação é 100% aberta e gratuita. Ao longo da próxima semana, cartões-postais de BH vão ser cenários dos “corres”, como a Praça da Liberdade, o Mercado Novo, a Praça Raul-Soares, a Rua Sapucaí, o Bairro Santa Tereza, o Edifício Sulacap, o Parque Municipal e o Parque das Mangabeiras.
Na terça-feira (16/9), acontece o “Corre de Abertura”, uma grande corrida com, inclusive, outros grupos da cidade participando da atividade. Já na quarta (17/9), está programada a “Exposição Crew Love”, fazendo uma referência ao tema desta edição. Na data, o público terá a oportunidade de conhecer outros projetos, espalhados pelo Brasil, sobre o esporte.
Chegando o fim da semana, a noite de quinta-feira (18/9) será destinada para o “Cine Calma”, com o lançamento de um documentário em comemoração aos oito anos do Calma Clima. Na sexta-feira (19/9) é dia de festa, o “Baile do Calma” vai acontecer como uma comemoração após o fim da prática esportiva.
No sábado (20/9), o “Grita Calma” reúne sete dos maiores grupos de corrida do Brasil hoje para rodas de conversa. Entre os projetos estão Salve Corre (RS), Pace Carisma (MA), Temple (SC), City Runners e Prjct Run (SP), Rexpeita (RJ) e High Pace Runners (PA). Além deles, participam os grupos locais Corre Capivaras, BairrosBH, Minas na Trilha, Afrovelozes e Piranhas.
O Parque das Mangabeiras será o espaço destinado para o “Calma Corpo”, que disponibilizará uma prática de yoga e consciência corporal no domingo (21/9). Para finalizar a programação, na segunda-feira (22/9) acontece a “Volta da Contorno”, uma corrida que “simbolicamente abraça a cidade desplanejada”, como descreve o idealizador do projeto.
Da urgência, nasce a calma
Ao Estado de Minas, Bernardo Biagioni conta que o esporte sempre fez parte da sua vida. Percorrendo por várias modalidades - do futebol ao tênis, até a natação e o ciclismo - ele destaca a importância do skate em sua vida.
“Brinco que todo skatista é um pouco arquiteto urbanista. O skate desenvolve uma percepção urbana muito aguçada, a cidade vira um suporte”, explica. “A gente passa a olhar melhor para as ruas, calçadas e praças. Foi com o olhar de skatista que me interessei e apaixonei pelo espaço urbano”, completa.
Ele ainda relaciona essa percepção com a corrida, categoria que também pode utilizar as ruas como um suporte. “Quando a gente começa a correr, a ideia de ver os equipamentos urbanos vem à tona. O esporte é a linha condutora que nos conecta com a cidade, é a nossa forma de pesquisar.”
“Sinto que correndo é como se a gente fosse pincéis escorregando por uma tela em branco, assim, desenhando a cidade, sabe?”, destaca.
Foi a partir da paixão pelo esporte que surgiu o Calma Clima, há oito anos. Bernardo explica que tudo começou com uma intenção de valorizar o território da capital mineira. “Depois de algum tempo passeando, visitando essas bordas de BH, decidi fazer um convite inicialmente nas minhas redes sociais, uma coisa super informal entre amigos, para que nascesse um grupo. Algumas pessoas já me mandavam mensagem querendo que as convidasse.”
“Brinco que da urgência nasceu a calma. Da urgência de fazer valer esses tantos horizontes, mirantes, lugares espaciais para se correr, para se viver em Belo Horizonte”, conta. Inicialmente, o projeto começou enquanto caminhadas na cidade. Em agosto de 2017, o grupo subiu a Serra do Curral e, só em 2018, aconteceu a primeira corrida.
O grupo começou com 17 integrantes. Em algumas semanas, chegaram à marca de 50 corredores e, em dois meses, 100. “Parecia que em 2019, 2020, a gente já estava enorme, não tinha como crescer mais. Éramos 200, 300 pessoas correndo. Quando passou a pandemia, voltamos com grupos de mil, 1.500 pessoas correndo juntas”, relembra Bernardo.
Quase uma década depois, o Calma Clima se tornou um dos maiores grupos do Brasil e do mundo. Uma vez por semana, pessoas se reúnem em alguma regional de Belo Horizonte para ressignificar sua experiência com o próprio corpo e com a cidade. A intenção do projeto é correr todo o mapa da capital mineira, diversificando as rotas e ruas que percorrem.
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“Belo Horizonte são muitas e, cada vez que nós corremos, a ideia é que a gente possa visitar essas tantas ‘Belo Horizontes’. Cada vez que mudamos de local é uma possibilidade de correr com outras pessoas. É um trabalho muito intenso de mapa, pesquisa e carinho com a cidade”, finaliza.
*Estagiária sob a supervisão do subeditor Humberto Santos