Delegada e esposa de assassino de gari é indiciada por prevaricação
Ana Paula Lamego está afastada por motivos de saúde desde 13 de agosto, dois dias após o crime cometido pelo marido. Defesa dela conversou com a reportagem
compartilhe
Siga noA delegada Ana Paula Lamego Balbino, esposa de Renê da Silva Nogueira Júnior, assassino confesso do gari Laudemir de Souza Fernandes, de 44 anos, em Belo Horizonte, foi indiciada por prevaricação. A informação foi confirmada nesta quinta-feira (11/9) pela Polícia Civil.
Ana Paula, que está afastada por motivos de saúde desde 13 de agosto, já havia sido indiciada por porte ilegal de arma de fogo. Segundo a PCMG, a delegada teria permitido que o marido usasse sua arma profissional, fornecida pelo governo de Minas.
Leia Mais
Agora, o novo indiciamento por prevaricação acontece na esteira de um procedimento administrativo instaurado pela Corregedoria da PCMG em 11 de agosto contra ela, na mesma data em que ocorreu o homicídio.
“A Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) informa que a Corregedoria-Geral de Polícia Civil (CGPC) concluiu e enviou para a Justiça o inquérito policial que apurou fatos relacionados à morte do gari Laudemir de Souza Fernandes, resultando no indiciamento da servidora em decorrência da suposta prática do crime de prevaricação, previsto no art. 319 do Código Penal”, informou a instituição policial.
Conforme o Código Penal, a prevaricação acontece quando um funcionário público retarda ou deixa de praticar um ato de ofício por motivo de interesse. A Polícia Civil, no entanto, não esclareceu as circunstâncias do indiciamento por esse crime.
Ao Estado de Minas, o advogado da delegada, Leonardo Avelar Guimarães, esclareceu que a suspeita de prevaricação decorre do entendimento de que sua cliente sabia do homicídio cometido pelo marido e deixou de reportar às autoridades ou, ainda, prendê-lo.
“O mérito dessa conclusão será discutido oportunamente, assim como outras questões já publicizadas. Contudo, ressalta-se que, devido ao estado de saúde da doutora Ana Paula Balbino, não foi possível o exercício efetivo do seu direito de defesa no referido inquérito. Em outras palavras, ela não teve condições de esclarecer pessoalmente os fatos investigados pela Corregedoria em razão do seu estado atual”, declarou.
Renê da Silva Nogueira Júnior está preso desde o dia do crime, ocorrido em 11 de agosto. Ele está custodiado no Presídio de Caeté, na Região Metropolitana de Belo Horizonte.
O resultado das investigações foi divulgado 18 dias após o homicídio. Ele responde por homicídio duplamente qualificado — por motivo fútil e por meio que dificultou a defesa da vítima —, ameaça à motorista do caminhão de coleta e porte ilegal de arma de fogo. A pena pode chegar a 35 anos.
Inicialmente, Renê negou ter cometido o crime e passado pelo local. Ele chegou a dizer que saiu de casa, no Bairro Vila da Serra, em Nova Lima, na Região Metropolitana, direto para o trabalho em Betim, também na Grande BH.
No entanto, o álibi foi derrubado durante as investigações. A polícia obteve imagens nítidas de Renê guardando a arma de sua esposa e também do carro dele. Além disso, exames de microbalística confirmaram que o projétil que matou Laudemir saiu da arma da delegada Ana Paula. Diante das evidências, uma semana após o crime, Renê confessou ter atirado na direção do gari.
O dia do crime
No dia 11 de agosto, Laudemir trabalhava junto com outras quatro pessoas, na Rua Modestina de Souza, no Bairro Vista Alegre, por volta das 8h55, quando a motorista do caminhão, uma mulher de 42 anos, parou e encostou o veículo para que uma fila de carros pudesse passar.
Em determinado momento, o último veículo, modelo BYD, da cor cinza, conduzido por Renê, teria enfrentado dificuldades para passar pelo caminhão. Por isso, a motorista e um dos garis teriam indicado ao motorista que o espaço seria suficiente.
Em depoimento à Polícia Civil, a condutora do caminhão de coleta, identificada como Eledias Aparecida Rodrigues, afirmou que, enquanto recebia as instruções dos funcionários, Renê pegou uma arma preta, fez movimento para engatilhar e, apontando para ela, disse: “Se você esbarrar no meu carro, eu vou dar um tiro na sua cara. Duvida?”.
Diante das ameaças feitas à colega, uma segunda testemunha afirmou que os demais trabalhadores tentaram acalmar o motorista e pediram que ele seguisse seu caminho. Mesmo assim, segundo o boletim de ocorrência, Renê desembarcou com a arma em punho, deixando o carregador cair. Ele então o recolocou, manobrou a arma e efetuou um disparo em direção à vítima.
Laudemir chegou a ser socorrido e encaminhado para o Hospital Santa Rita, no Bairro Jardim Industrial, em Contagem, mas morreu.
Siga nosso canal no WhatsApp e receba notícias relevantes para o seu dia