Minas na rota de remédio revolucionário
Desenvolvido pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) em parceria com o laboratório farmacêutico, polilaminina poderá ser fabricado em Montes Claros
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Siga noUma grande inovação científica foi anunciada nesta semana: a criação da polilaminina, medicamento que tem capacidade de regenerar a medula espinhal em pessoas com paraplegia e tetraplegia, possibilitando a recuperação total ou parcial dos movimentos. O fármaco inovador foi desenvolvido por pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) em parceria com o Laboratório Farmacêutico Cristália.
A empresa já encaminhou pedido de autorização à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para a produção comercial do produto e poderá fabricá-lo, ao menos em parte, em Minas Gerais, onde possui duas unidades: uma em Pouso Alegre (na Região Sul) e outra em Montes Claros (no Norte de Minas).
A informação foi dada ao Estado de Minas, ontem, pelo vice-presidente de Relações Institucionais da Cristália, Odilon Costa, durante a solenidade de posse da nova diretoria do Sindicato Intermunicipal das Indústrias Químicas e Farmacêuticas de Montes Claros (Quifarmo). Ele destacou que a produção da polilaminina deverá começar na sede da empresa em Itapira (SP), que abrigou o desenvolvimento final do produto. Porém, a empresa poderá estender o processo fabril às suas demais fábricas em São Paulo (Capital, Campinas e Cotia) e em Minas.
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“Poderemos ter uma etapa da produção, como a embalagem, em qualquer uma das nossas unidades. Mas a produção principal será em Itapira, onde está o nosso complexo industrial para a saúde. Mas isso (a fabricação) poderá ocorrer em outras das nossas fábricas, sem nenhum impedimento”, afirmou o executivo.
Segundo Costa, a expectativa é conseguir a autorização da Anvisa para começar a produção comercial dentro de dois ou três anos. Antes, será preciso submeter o estudo sobre os resultados clínicos do medicamento à Agência.
A polilaminina foi desenvolvida sob a liderança da bióloga Tatiana Coelho Sampaio, do Instituto de Ciências Biomédicas da UFRJ. A equipe da pesquisadora iniciou o estudo em 2007. Em 2018, o projeto foi incorporado pelo Cristália, que formalizou a parceria com a UFRJ em 2021. A empresa informou que, até o momento, foram investidos cerca de R$ 28 milhões em pesquisa e infraestrutura na planta de biotecnologia em Itapira.
A polilaminina é produzida naturalmente pelo corpo no desenvolvimento do sistema nervoso e, conforme descoberto pela equipe da UFRJ, pode ser obtida da placenta humana.“É uma alternativa mais acessível e segura do que as células-tronco. Nossos estudos estão em estágio mais avançado, pois as células-tronco possuem imprevisibilidade após a aplicação”, explica Tatiana Sampaio.
As lesões medulares interrompem a comunicação entre o cérebro e o corpo, trazendo limitações severas como paraplegia (perda dos movimentos dos membros inferiores) ou tetraplegia (comprometimento dos movimentos do pescoço para baixo). Essas lesões são frequentemente causadas por acidentes de trânsito, quedas ou mergulhos.
Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), entre 250 mil e 500 mil pessoas no mundo sofrem lesão medular a cada ano, condição até então sem tratamento medicamentoso efetivo. A polilaminina surge como alternativa promissora para reverter esse cenário, pois é uma proteína capaz de regenerar as células da medula, devolvendo parcial ou totalmente a mobilidade.
Os efeitos mais expressivos são observados quando a aplicação ocorre em até 24 horas após o trauma, mas há benefícios também em lesões antigas. O tratamento exige apenas uma dose, seguida de fisioterapia para reabilitação.
Durante os estudos, foram realizados tratamentos experimentais em 10 pacientes, que comprovaram a eficácia e segurança do produto. Entre esses pacientes estão um homem de 31 anos (lesão por acidente de trânsito), outro de 33 (lesão por arma de fogo) e uma mulher de 27 (lesão por queda). “Todos os nossos testes comprovam a segurança da polilaminina para uso humano”, assegura Tatiana Sampaio.
O laboratório Cristália informou que aguarda agora autorização da Anvisa para iniciar a fase 1 dos estudos, que envolverá mais cinco pacientes, etapa necessária para que o tratamento esteja disponível nos hospitais brasileiros. A próxima fase contará ainda com a parceria do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP) para cirurgias e da Associação de Apoio à Criança Deficiente (AACD), da capital paulista, para a reabilitação.
“Produzir a Polilaminina e disponibilizá-la para hospitais brasileiros colocará o país na vanguarda da medicina mundial. Não é só uma conquista científica nacional, mas também a realização de um sonho para médicos como eu, que já testemunharam o sofrimento de pacientes com lesão medular”, afirma Ogari Pacheco, presidente do Conselho de Administração e fundador do Cristália.
O vice-presidente de Relações Institucionais do Cristália, considera que o desenvolvimento da polilaminina é uma revolução, por dar a esperança de que pessoas com paraplegia e tetraplegia possam recuperar os movimentos. “É uma coisa que vai revolucionar o mundo farmacêutico. Você imagina fazer andar uma pessoa que não podia mais fazer isso?!?!”, diz Odilon Costa.
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Ampliação em Montes Claros
Atualmente, o Laboratório Cristália realiza investimento de R$ 300 milhões em sua nova planta em Montes Claros, com a expectativa de gerar 600 empregos na cidade. Odilon Costa informou que em breve o grupo vai anunciar a ampliação dos investimentos na cidade do Norte de Minas, que firma-se como terceiro maior polo farmacêutico nacional. Porém, preferiu não adiantar valores.
Entre as empresas do setor com plantas em Montes Claros e região estão a Eurofarma, a Novo Nordisk, a Hipolabor e a União Química, que acaba de adquirir a planta da MSD Saúde Animal (antiga Vallee). Além, claro, da Cristália.