INVESTIGAÇÃO

Mortandade de peixes no Paraopeba pode comprometer o abastecimento de água?

Primeiros registros de peixes mortos surgiram no sábado (6/9), em Juatuba, e se espalhou por cerca de 17 quilômetros, atingindo também Esmeraldas

Publicidade
Carregando...

A morte de milhares de peixes no Rio Paraopeba, entre Juatuba e Esmeraldas, acendeu o alerta sobre possíveis impactos no fornecimento de água para a Região Metropolitana de Belo Horizonte, que depende de reservatórios ligados ao rio.

O Sistema Paraopeba, um dos principais responsáveis por garantir água a milhões de pessoas na Grande BH, é composto pelas represas de Rio Manso, Serra Azul e Vargem das Flores. Qualquer ameaça à qualidade do manancial mobiliza autoridades e aumenta o temor da população, já marcada pelo trauma da crise hídrica enfrentada em 2015, considerada a “mais grave da história”, quando o estado enfrentou meses de desabastecimento e rodízio no fornecimento.

Procurada pela reportagem, a Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa) descartou qualquer risco. Também reforçou que a ocorrência não tem relação com a rede de operação da companhia e que o ponto em que foram registradas as mortes de peixes fica a mais de 40 quilômetros abaixo da captação usada para abastecer a Grande BH.

Em nota, a empresa informou que atua junto à Secretaria de Estado de Meio Ambiente e à Polícia Militar Ambiental na investigação do caso. “Neste momento,  a empresa contribui com o monitoramento da qualidade da água e auxilia na identificação das possíveis causas do ocorrido”, reforçou o texto.

O que aconteceu com os peixes?

Os primeiros registros de peixes mortos surgiram no sábado (6/9), logo após a foz do Rio Betim com o Paraopeba, em Juatuba. Desde então, o fenômeno se espalhou por cerca de 17 quilômetros, atingindo também Esmeraldas. Estima-se que mais de 4,5 mil espécimes tenham sido encontrados mortos, incluindo espécies conhecidas pela resistência em ambientes degradados, como surubins, cascudos, piranhas e o pacamã, este último listado como ameaçado de extinção.

“Esses animais já convivem há anos com a contaminação por metais pesados oriundos do rompimento da barragem de Brumadinho, em 2019, além do esgotamento sanitário. São espécies adaptadas a cenários adversos, mas agora não resistiram”, explicou Heleno Maia, presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Paraopeba (CBH Paraopeba), em entrevista ao EM.

A principal suspeita é de que um produto químico tenha sido despejado na madrugada de sexta-feira (5/9), provocando uma reação em cadeia no leito do rio. As análises da água, dos sedimentos e das carcaças dos peixes já estão em andamento, mas os resultados podem levar até dez dias para ficarem prontos.

“Somente com o laudo poderemos confirmar se houve envenenamento desses animais. Ainda não sabemos do que se trata, mas acreditamos que será possível identificar os responsáveis com mais facilidade, já que o ponto de origem parece estar concentrado na foz do Rio Betim”, disse Maia.

Contaminação invisível

O fenômeno não alterou visivelmente a coloração do rio. A água em muitos trechos segue límpida, escondendo uma ameaça invisível que deixa rastros de carcaças às margens. “Temos vídeos que mostram os peixes agonizando, buscando respiração fora d’água. Até agora, já foram recolhidos mais de 4,5 mil espécimes, de diferentes tamanhos e espécies”, afirmou o presidente do CBH Paraopeba.

O Núcleo de Assessoria às Comunidades Atingidas por Barragens (Nacab) emitiu nota em tom de urgência. A entidade vai notificar órgãos competentes para cobrar respostas rápidas e transparência. “A cena reforça o medo e a insegurança que marcam a vida das comunidades atingidas desde o rompimento da barragem da Vale, em 2019”, afirmou.

Diante da incerteza, prefeituras de municípios banhados pelo Paraopeba, como Pompéu, Mateus Leme e Esmeraldas, recomendaram à população que evite pescar, consumir ou comercializar peixes do rio até a conclusão dos laudos. “Essa é uma ação preventiva para proteger a saúde de todos”, afirmou a Prefeitura de Pompéu em comunicado publicado nesta quinta-feira (11/9) nas redes sociais.

Monitoramento e investigações

Além do CBH Paraopeba e da Copasa, o Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam), a Secretaria de Meio Ambiente (Semad), o Instituto Estadual de Florestas (IEF) e a Polícia Militar de Meio Ambiente participam das ações emergenciais. O trecho entre a foz do Rio Betim e Esmeraldas está sob observação, com risco de que os efeitos avancem.

Siga nosso canal no WhatsApp e receba notícias relevantes para o seu dia

Em nota, a Semad informou que medidas de mitigação só poderão ser definidas após os resultados das análises laboratoriais. “As medidas para mitigar os impactos ambientais serão definidas a partir dos resultados das investigações e do monitoramento contínuo realizado pelos órgãos competentes. O Sistema Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Sisema) reforça seu compromisso com a proteção dos recursos hídricos e a preservação ambiental”, destacou.

Acesse o Clube do Assinante

Clique aqui para finalizar a ativação.

Acesse sua conta

Se você já possui cadastro no Estado de Minas, informe e-mail/matrícula e senha. Se ainda não tem,

Informe seus dados para criar uma conta:

Digite seu e-mail da conta para enviarmos os passos para a recuperação de senha:

Faça a sua assinatura

Estado de Minas

Estado de Minas

de R$ 9,90 por apenas

R$ 1,90

nos 2 primeiros meses

Aproveite o melhor do Estado de Minas: conteúdos exclusivos, colunistas renomados e muitos benefícios para você

Assine agora
overflay