Síndica do Edifício JK está internada e disputa pela sucessão já começou
Moradores relatam que foram procurados pela administração para assinarem procuração em favor do subsíndico, Manoel Gonçalves de Freitas Neto
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Siga noO Conjunto Governador Kubitschek, conhecido como Edifício JK, no Bairro Santo Agostinho, Região Centro-Sul de Belo Horizonte, vive dias turbulentos. A síndica do prédio, Maria Lima das Graças, está internada no hospital e afastada das funções, que exerce há quase 40 anos. Porém, a sucessão do cargo já está em disputa. Pelo menos é o que dizem moradores do edifício ouvidos pelo Estado de Minas.
Maria das Graças estaria internada no Hospital Felício Rocho, no Barro Preto, Região Centro-Sul da capital, desde 20 de agosto. Houve até boatos de que a mandatária teria morrido, informação desmentida pelo escritório Faiçal Assrauy, que representa o condomínio judicialmente. Em nota, o hospital informou que, por decisão da família, não serão divulgadas informações sobre a paciente.
Durante o afastamento da síndica, por questões de saúde, quem responde pela administração do Conjunto JK é o subsíndico e gerente administrativo, Manoel Gonçalves de Freitas Neto. Em dezembro do ano passado, Maria Lima das Graças foi eleita para seu 38º mandato, em pleito de chapa única. Para a função de subsíndico constavam os nomes de Caio Rômulo Delgado de Lima, que é irmão da síndica, e do gerente Manoel Neto.
De acordo com o advogado Faiçal Assrauy, os dois foram inscritos na chapa para o cargo, mas o irmão da mandatária não tem interesse em assumir a função na ausência dela. Ainda segundo Assrauy, o fato de ambos constarem no regimento do prédio como subsíndicos é uma questão que será avaliada pelo Conselho em breve.
Porém, é o gerente que responde pelo condomínio na ausência da síndica e já trabalha ao lado dela há 38 anos. Nesta quinta-feira (11/9), o advogado informou que o irmão da síndica renunciou ao cargo, alegando falta de tempo; desconhecimento da gestão do condomínio r por estar focado na recuperação da irmã.
O advogado explica que, em caso de morte da mandatária, Manoel Neto assumiria temporariamente até uma nova eleição ser convocada. Mas o que moradores ouvidos pelo Estado de Minas dizem é que muitos já foram procurados pela administração do edifício para assinarem procuração em nome de Manoel Neto. A reportagem teve acesso ao documento que dá poderes para que ele represente o proprietário nas assembleias do condomínio.
"Por força do presente instrumento, o procurador supracitado poderá assinar livros de atas, de presença, de protocolo de edital de convocação da assembleia, propor, concordar, discordar, aprovar, desaprovar, impugnar, protestar, votar na eleição, ser votado, bem como votar em qualquer item da pauta da Assembleia Geral Ordinária e Extraordinária e, ainda, requerer e pleitear junto ao presidente da mesa o que achar necessário e tudo mais que considerar indispensável ao fiel desempenho deste mandato, podendo, ainda, substabelecer com ou sem reservas", diz o documento.
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Intimidação
O Estado de Minas ouviu seis moradores do condomínio, todos sob a condição de anonimato. Parte teme represálias da administração, enquanto outros preferem não se expor. Três afirmaram não ter sido procurados, e um acredita que tudo não passa de boato, semelhante ao relacionado à morte da síndica.
"Pessoas que trabalham diretamente com ela estão abordando alguns moradores, de uma forma um pouco mais intimidadora, para que eles assinem uma procuração e permaneçam no poder", afirmou um morador.
Outro morador contou que houve uma mobilização de alguns proprietários a fim de não assinarem novas procurações. "Mas é sempre uma terceira pessoa falando. Tem agitador querendo fazer confusão. Pessoas que odeiam ela pessoalmente, que falam mal dela, que não têm escrúpulos nas críticas a ela."
Um terceiro afirmou que as procurações estão sempre sendo pedidas, mas não chegam até ele por já ter enfrentado a administração da síndica em outro momento.
Entre os que foram procurados, um morador contou que foi até a administração resolver algumas questões burocráticas e a procuração foi apresentada a ele. "Acho que acontece uma coisa meio “amigo do rei”. Se você é, as coisas serão facilitadas para você. Já se for da turma que não concorda... Lá é um lugar muito burocrático", comentou. Ele não sabe dizer se há uma busca ativa pelos proprietários para assinarem o documento.
Outro morador relatou que foi procurado por um porteiro e se sentiu coagido a assinar. Não sabia se tinha sido o único, procurou outras pessoas e uma delas confirmou ter sido abordada de maneira muito semelhante. "Acho importante falar. As coisas erradas estão instauradas há muito tempo", afirmou.
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Um dos procurados acabou assinando o documento depois da abordagem. O Estado de Minas pediu um posicionamento ao escritório Faiçal Assrauy, que representa o condomínio, a respeito da abordagem aos proprietários em relação à procuração e aguarda retorno.