TERREMOTOS

"Território sísmico", Minas espera 5 sensores de abalos

Aparelhos devem ser instalados neste ano no estado, que concentra 4 de cada 10 tremores no Brasil. Ponto de interesse é Sete Lagoas

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A Rede Sismográfica Brasileira (RSBR) já registrou 218 tremores de terra em todo o Brasil neste ano, sendo 91 apenas em Minas Gerais, o que equivale a 41%. Ou seja, a cada dez sismos, quatro foram em território mineiro. Somente com esses abalos sísmicos, o estado já igualou o número de todo o ano passado: 91 dos 246 registros no país, o equivalente a 36%. Para entender a causa e as características dos tremores, cinco novos sismógrafos fixos serão instalados em Sete Lagoas, Região Central do estado, e outras quatro cidades, ainda este ano.


A instalação dos equipamentos é fruto de uma parceria entre o Observatório Sismológico da Universidade de Brasília (Obsis/UnB), Laboratório de Geofísica do Instituto de Geociências da UFMG e a Coordenadoria Estadual de Defesa Civil (Cedec). A colaboração foi anunciada em julho de 2024 e previa a instalação dos sismógrafos ainda naquele ano, o que não ocorreu.


Darlan Portela Fontenele, do Obsis/UnB, explica que Minas Gerais é considerado um “território sísmico”. Somente em agosto, foram registrados seis tremores, todos de baixa magnitude: em Planura, Pirajuba e Frutal, no Triângulo Mineiro; dois em Sete Lagoas, na Região Central, e um em Araçuaí, no Vale do Jequitinhonha.


O ponto de interesse do estudo em questão será Sete Lagoas, que historicamente concentra registros de tremores de terra. Um sismógrafo será instalado no município e os outros quatro nas vizinhanças: Betim, Lagoa Santa, Itabirito e Ipatinga. Eles vão se juntar aos sete sismógrafos fixos que fazem parte da rede espalhada por Minas Gerais e outros sete móveis que fazem marcações em Sete Lagoas.


“De certa forma, a comunidade local ficou apreensiva. Então, o ideal é estudar essa região mais de perto, com mais sensores para localizar realmente onde é o epicentro e o hipocentro”, explica Paulo Roberto Antunes Aranha, coordenador do Laboratório de Geofísica do Instituto de Geociências da UFMG.


Nesse projeto, os municípios são responsáveis pela construção e manutenção do abrigo para receber o equipamento, com custo de aproximadamente R$ 10 mil cada um. Já a UnB investirá um total de R$ 500 mil nos sensores e ficará responsável pela instalação, manutenção e operação dos sismógrafos.


Em Betim e Itabirito, as obras de infraestrutura para os abrigos técnicos já foram concluídas, e a instalação dos equipamentos está prevista para outubro. Há expectativa de que as outras estruturas fiquem prontas em breve para que todos os sismógrafos sejam instalados ainda este ano.


A CedeC-MG atuará na articulação institucional, fazendo visitas técnicas necessárias. Segundo a Defesa Civil, os dados coletados pelas novas estações serão integrados à Rede Sismográfica Brasileira (RSBR), fortalecendo a capacidade de análise e resposta a eventos sísmicos, além de fornecer subsídios técnicos para a prevenção e formulação de políticas públicas voltadas à redução de riscos geológicos.


Além disso, o projeto visa também estimular o estudo da área em Minas Gerais para, futuramente, ter condições de criar um Centro Sismográfico no estado. “A importância da sismologia é a gente conhecer o nosso subsolo, onde estão as fraturas, as falhas, onde pode acontecer um sismo. E até, de certa forma, esse conhecimento geológico leva ao conhecimento de potenciais recursos minerais”, explica Aranha.

Novas tecnologias


A região de Sete Lagoas e o entorno já são objeto de estudo de Darlan. Ele conta que sua pesquisa é a primeira a utilizar tecnologia infrassônica para auxiliar a identificar a origem de um tremor de terra. “Estou utilizando uma técnica nova que nunca foi utilizada aqui no país, pouco usada no mundo também, na discriminação entre eventos naturais e artificiais. Especificamente olhando para o caso das minas e das pedreiras”, explica.

Os infrassons são sinais na frequência de até 20 Hz, inaudíveis pelo ser humano. Na natureza, o infrassom é utilizado por golfinhos e baleias para se comunicarem. Também é gerado por meteoros quando entram na atmosfera, lançamento de foguetes, por explosões em minas entre outros.


Segundo Fontenele, o registro no sismógrafo de uma detonação e de um sismo natural são muito parecidos, sendo difícil diferenciar entre um e outro. O infrassom, então, seria uma ferramenta auxiliar para interpretar o sinal captado e classificar com mais precisão.


Baixa magnitude


Darlan explica que, no geral, a população começa a sentir tremores com magnitude a partir de 2 graus na Escala Richter (2 mR) e que, no Brasil, um sismo que chegue a 5 graus já é considerado um evento de grande magnitude.


“Falando globalmente, cinco não é um grande terremoto, mas no Brasil, para a nossa realidade, a gente considera como um terremoto expressivo. O normal no país são eventos muito pequenos, mas a gente considera importante registrar todos eles para ter a possibilidade de pelo menos entender por que eles estão acontecendo”, explica.


Segundo o especialista, ainda não há como afirmar quais são as causas dos tremores em Minas Gerais, mas há algumas hipóteses que poderão ser confirmadas pelo estudo. A certeza é de que um sismo só acontece onde já existe uma falha geológica.


Placas tectônicas


O Brasil se encontra no centro da Placa Tectônica Sul-Americana e recebe pressão principalmente da Placa Africana à Leste e de Nazca à Oeste, deixando-a em estado de tensão. Em alguns pontos, essa tensão é maior do que a rocha pode suportar e pode levar à movimentação do terreno, ocasionando um sismo. Há também zonas cársticas, com presença de dolinas e cavernas, que podem colapsar.


Esses eventos podem ser acelerados pela ação humana, em movimentos como a construção de uma barragem – que acrescentaria uma grande carga sobre uma falha – ou mineração – que retiram um grande peso do solo. “Não vai induzir onde não há condições para tal, somente onde já haveria condições, mas só com o tempo poderia haver essa liberação de energia”, frisa Fontenele.


Sismos no Brasil


Quando se fala em terremoto, o imaginário popular tende a remeter a grandes tremores de terra e, possivelmente, à destruição. No Brasil, o tremor mais relevante ocorreu em 1955, na Serra do Tombador, no norte do Mato Grosso, e chegou a 6,5 graus de magnitude na Escala Richter (mR). Segundo Darlan, o episódio “não causou danos, por ter ocorrido, felizmente, em uma época em que não havia muita gente morando na região”.


Em dezembro de 2007, um tremor de 4,9 graus na Escala Richter provocou a única morte por terremoto no Brasil. O fenômeno praticamente devastou a comunidade rural de Caraíbas, no município de Itacarambi, no Norte de Minas, e matou a menina Jessiquele Oliveira Silva, de 5 anos, que dormia em casa com a família quando as paredes vieram abaixo. Seis pessoas ficaram feridas, duas delas com traumatismo craniano. Das 77 casas da localidade, seis ficaram completamente destruídas, e as demais tiveram as estruturas abaladas.

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A tragédia mostrou a importância do estudo sismológico no Brasil. Apesar disso, Paulo Roberto considera que há uma deficiência sobre o assunto para o público geral. “Este é um um defeito do nosso currículo escolar, que falava assim: ‘Ah, aqui no Brasil não tem sismo’. Não temos grandes sismos como no Japão e na Indonésia, mas temos. Então, por causa desse ensinamento meio falho, a população fica apavorada quando acontece”, analisa.


Em Minas Gerais, Aranha aponta várias regiões com registros de tremores. “Temos sismos históricos em Carmo do Cajuru, Montes Claros, Itaobim e Rubim. Então, o ideal seria que tivéssemos um sistema maior, com vários detectores espalhados pelo estado, para poder captar essas ondas e entender a estrutura da parte superior da crosta na região”.


Frutal, no Triângulo Mineiro, é um município que se destaca nesse cenário. Até agosto, a cidade foi acometida por oito sismos, sendo cinco deles nos três primeiros meses deste ano, que variaram entre 1,9 e 2,1 mR. Isso representa uma queda nos registros, uma vez que foram 41 em 2024, sendo 17 somente em junho. O mais expressivo deles alcançou magnitude de 4,0 mR, seguido de um com menor magnitude, de 3,2 mR, 11 minutos depois.

OS ÚLTIMOS TREMORES


Sismos registrados em Minas Gerais em agosto e setembro de 2025 e suas magnitudes, em graus da Escala Richter (mR)

Agosto

1º/8 - Planura (Triângulo Mineiro): 2,2 mR
15/8 - Araçuaí (Vale do Jequitinhonha): 1,9 mR
23/8 - Sete Lagoas (Região Central de Minas): 1,9 mR
24/8 - Sete Lagoas (Região Central de Minas): 2,5 mR
25/8 - Pirajuba (Triângulo Mineiro): 2,8 mR
26/8 - Frutal (Triângulo Mineiro): 2,3 mR

Setembro

4/9 - Crisólita ( Vale do Mucuri): 2,5 mR
8/9 (17h15) - Capim Branco (RMBH): 1,9 mR
8/9 (17h26) - Capim Branco (RMBH): 2,0 mR

Onde ficarão os novos sismógrafos: Sete Lagoas, Betim, Lagoa Santa, Itabirito e Ipatinga


*A mR mede a quantidade de energia liberada por um tremor de terra, sendo que um aumento em um grau significa uma vibração dez vezes maior

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