CHEFS E ARTESÃOS

Botecar 2025 propõe homenagem a artesãos de Minas; confira

As mesmas mãos que tecem, esculpem e pintam também temperam. Por isso, nesta edição do Botecar, bares utilizam o sabor para reverenciar o artesanato de Minas

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A cultura e as artes entremeiam diversas – senão todas – camadas da sociedade. Na gastronomia, essa influência pode parecer sutil e, para muitos, ser imperceptível, apesar de haver um movimento atual que enxerga a área além dos sabores. Quando falamos da relação entre a cozinha e o artesanato, por exemplo, é possível traçar um paralelo direto com os modos de fazer. Ambas as áreas exigem o trabalho manual fino, com uso de técnicas, algumas tradicionais e simbólicas.


Além de destacar essa semelhança e, claro, o trabalho feito com as mãos, a 9ª edição do Botecar enaltece o trabalho de artistas e artesãos mineiros, por vezes pouco reconhecidos. O festival, que começou ontem (10/9), reúne 40 bares espalhados por diversas regiões de Belo Horizonte e aposta no tema “Sabores Artesanais – Feito à Mão”.


Cada estabelecimento criou um petisco ou prato que, de alguma forma, se encaixa na proposta, seja por fazer referência visual, carregar objetos de artesãos em sua apresentação ou mesmo por buscar relações com sabores ou modos de produção do artesanato.


Para Antônio Lúcio Martins, idealizador do festival, o tema de 2025 é um convite a uma viagem cultural por Minas Gerais. “Quando a gente fala de inspiração, inclusive na culinária, precisamos falar de aspectos culturais. Neste ano, estamos fazendo uma viagem pela cultura mineira, afinal, cada região do estado tem suas artes e artesanatos”, diz. Segundo ele, a organização propõe a comparação da cozinha com o ateliê.

Negócio familiar

Lombo Barroco (Kxote): fatias de lombo recheadas com banana-da-terra, purê de mandioca e farofa de torresmo
Lombo Barroco (Kxote): fatias de lombo recheadas com banana-da-terra, purê de mandioca e farofa de torresmo Pádua de Carvalho/Divulgação


O Bar Kxote começou com Luiz Antônio Ferreira, pai de Fabrício Silva, atual dono. Antes de ser de fato um bar, foi aberto, em 2002, como uma barraquinha, onde já se encontravam espetinhos, caldos e um famoso joelho de porco. Os anos se passaram e Luiz, que conciliava a venda de comida com o trabalho como taxista, optou por investir, em 2014, em uma loja no Bairro Santa Helena, Região do Barreiro.


Alguns anos depois, em 2019, já mais consolidado, o bar Kxote (que leva esse nome em homenagem ao apelido dado a Luiz), participou pela primeira vez do Botecar, quando foi consagrado com o prêmio de melhor prato do festival. Batizado de “Frevo Mineiro” (R$ 69,90), une costela bovina cozida no molho da casa acompanhada de petit gateau de canjiquinha recheado com requeijão e fatias de banana-da-terra fritas sobre cama de mostarda.

Com a pandemia, Fabrício assumiu o bar ao lado de sua esposa, Aline Cristiny, seguindo, claro, o mesmo rigor do pai quando o assunto é qualidade. Vale ressaltar que sua mãe, Marinete Eunice, e sua sogra, Julia Costa, também têm participação ativa na vida e na história do empreendimento.

Vizinhança talentosa


Neste ano, a casa vai homenagear uma vizinha de bairro: a Casa Atelier BH, escola e galeria de arte. O espaço abriga vários artistas e artesãos, portanto, a homenagem do Kxote vai além de um só personagem, abarca diversos.


“A gente tem contato com a Casa Atelier BH e o pessoal de lá e foi muito bom saber que, com o tema do Botecar, poderíamos homenageá-los. A ideia é que os artistas exponham obras no bar enquanto o festival acontece para que possam divulgar o trabalho deles. Queremos, inclusive, fazer um sábado em que eles fiquem pintando para que todos os clientes possam acompanhar o processo”, explica Fabrício.


O prato criado para essa homenagem se chama “Lombo Barroco” (R$ 39,90) e é composto por fatias de lombo suíno recheadas com banana-da-terra e cozidas em molho da casa acompanhadas de purê rústico de mandioca com camadas de requeijão e muçarela. O prato acompanha uma farofa de torresmo.
Quem pedir o prato vai ver de perto um porquinho, escultura de argila esculpida por Sandra Santiago, artista e proprietária da Casa Atelier BH, que chega à mesa com a comida.


Azulejos de cerâmica

Samuel e José Márcio Ferreira, o Marcinho, homenageiam o artista de Nova Lima Glauber da Makita
Samuel e José Márcio Ferreira, o Marcinho, homenageiam o artista de Nova Lima Glauber da Makita Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press


O Barba, no Bairro Funcionários, Região Centro-Sul da cidade, também vai participar de mais uma edição do Botecar. No ano passado, José Márcio Ferreira, proprietário da casa, que é mais conhecido como Marcinho, escolheu homenagear o músico e frequentador da casa, Paulinho Pedra Azul, afinal, o tema era “Sabores Musicais”.

Neste ano, ele aposta em outro artista, desta vez um que usa a makita como instrumento principal. Glauber da Makita, artista de Nova Lima, trabalha com azulejos de cerâmica que servem como telas onde desenha com a ferramenta. Seus “traços” são tão delicados que ele se tornou conhecido pelos retratos que faz de celebridades, com uma quantidade impressionante de detalhes.


Marcinho conheceu o trabalho de Glauber quando recebeu o título de embaixador da gastronomia de uma empresária de BH e foi presenteado com um retrato seu feito pelo artista. “Quando soube que o Botecar 2025 homenagearia o artesanato, me lembrei dele, que é uma pessoa talentosa e muito simples, que merece muito reconhecimento”, explica.


Para o festival, O Barba vai servir o prato “Costela do Capitão Makita” (R$ 41,90), que é um arroz caldoso de costela de boi com queijo servido dentro de um “barco” comestível, feito com massa de pastel. A ideia inicial do chef e proprietário da casa era servir seu prato em um azulejo de Glauber mas, como não seria possível por ser um objeto plano e não “firmar” o preparo, ele optou por trazer Glauber de outra forma para o festival.


O bar vai receber diversas obras do artista, que ficarão expostas para os clientes. Todos, aliás, vão poder acompanhar, em alguns dias, o trabalho ao vivo de Glauber. “Quero que ele venha e divulgue seu trabalho. Quanto mais gente o apreciar, melhor”, explica Marcinho.

Homenagem ao avô

Seu Anchieta (Sô Pedro): sobrecoxa de frango com molho secreto e pipoquinha de quiabo
Seu Anchieta (Sô Pedro): sobrecoxa de frango com molho secreto e pipoquinha de quiabo Pádua de Carvalho/Divulgação


O escolhido pelo bar Sô Pedro, no Bairro União, Região Nordeste de BH, foi Seu Anchieta, avô de Pedro Anchieta, proprietário da casa. Ele era um artesão que trabalhava, sobretudo, com madeira e pintura de telas, mas faleceu há um ano e meio.

Por isso, o tema deste ano foi a oportunidade perfeita para o neto tentar, no seu meio de atuação, homenagear o avô. “Essa é uma receita que me lembra muito a família e ele”, diz. O prato, inclusive, leva o nome do homenageado – “Seu Anchieta” (R$ 39,90) – e é uma versão diferente do frango com quiabo tradicional. Nela, a sobrecoxa é temperada em um molho secreto de Pedro e servida com pipoca de quiabo, porção do vegetal frito que já faz sucesso no bar. Durante o período do festival, Pedro vai expor algumas obras que tem em casa feitas pelo avô.

Recheio de moqueca


O restaurante Peixinho da Ju, fundado por Juliana Costa em 2019, vai participar pela terceira vez do Botecar. A casa é a “irmã mais nova” do já fechado Johnny 's Fish, restaurante do marido de Juliana que seguia a mesma proposta do cardápio, com foco nos peixes. Hoje, está no Bairro Guarani, na Região Nordeste de BH.


O prato criado para a edição de 2025 é o “Pastel de Rede” (R$ 39,90), recheado com moqueca de tilápia servido com maionese de pimenta biquinho. Com ele, o restaurante homenageia a artesã Jaciara Santiago, frequentadora da casa que é, inclusive, quem fez e pintou os pratos de cerâmica em que os pastéis são servidos.


“Vai ser também uma oportunidade dela expor os trabalhos no restaurante e apresentar para o público”, destaca Juliana, animada com mais uma edição do festival gastronômico.


Em expansão


O Botecar foi criado em BH em 2016 com o objetivo de levar luz aos bares da capital mineira. Há dois anos, o festival deu o primeiro passo em outras localidades, com edições em Brasília e no Rio de Janeiro. Neste ano, Goiânia e outras seis cidades do interior de Minas foram englobadas pelo evento: Pouso Alegre, Juiz de Fora, Divinópolis, Montes Claros, Uberlândia e Governador Valadares.

Talentos e sabores do Norte

Segredos de Yara (Bistrô Garagem do Gunda): costelinha suína, purê de abóbora cabotiá, goiabada cascão e queijo muçarela gratinado
Segredos de Yara (Bistrô Garagem do Gunda): costelinha suína, purê de abóbora cabotiá, goiabada cascão e queijo muçarela gratinado Pádua de Carvalho/Divulgação


Minas é vasta em sabores e artes. Por isso, nesta edição do Botecar, em que o trabalho manual mineiro é homenageado, um bar e um restaurante resgatam figuras e ingredientes naturais do Norte do estado.
Leonardo Cardoso e Antônio Torres, mais conhecido como Gunda, são sócios do Bistrô Garagem do Gunda, no Bairro Lindéia, Região do Barreiro. O bar e restaurante nasceu em 2022, de forma despretensiosa, quando amigos sugeriram que abrissem um espaço para cozinhar e receber algumas pessoas. “No início era improvisado, fazíamos feijoada e chamávamos amigos”, conta Leonardo.


Esta é a segunda vez que o estabelecimento participa do Botecar e as expectativas estão elevadas, afinal, no ano passado, ficaram em segundo lugar com o “Tentação Cruel” (R$ 59,90). Era um prato com joelho de porco assado e pururucado com redução de rapadura, polenta de milho verde, ora-pro-nóbis, tomate confit refogado no alho e rodelas de milho tostadas.


A homenageada de 2025 não poderia ser menos especial. Leonardo e Gunda escolheram reverenciar a artista mineira de Montes Claros, Yara Tupynambá.


O prato “Segredos de Yara” (R$ 39,90) foi pensado para surpreender os clientes, que não imaginam as cores inseridas no recipiente em que é servido. Uma costelinha suína é acompanhada de purê de abóbora cabotiá, goiabada cascão e queijo muçarela gratinado.

Quem degustar o prato vai poder preencher uma cédula para concorrer a um quadro de Yara Tupynambá, doado pela própria artista, que se sentiu muito feliz com a homenagem proposta pelo bistrô. “Não tinha como não falarmos dessa artista mineira e ela topou logo de cara também.”

Carne de sol

Mestre Adão, Maria Lira e Convidados (Armazém Santa Tereza): carne de sol, feijão-de-corda, arroz, mandioca na manteiga de garrafa, banana-da-terra frita, ovo frito, farofa e salada
Mestre Adão, Maria Lira e Convidados (Armazém Santa Tereza): carne de sol, feijão-de-corda, arroz, mandioca na manteiga de garrafa, banana-da-terra frita, ovo frito, farofa e salada Pádua de Carvalho/Divulgação


Esta edição do Botecar vai ser desafiadora para André Lana e seu pai, Kleber Borges, mais conhecido como Dom Klebinho, que assumiram, há cerca de um mês, o Armazém Santa Tereza. A casa, localizada no Bairro Santa Tereza, Região Leste da capital mineira, já existia com o mesmo nome antes dessa mudança de donos. “Esse é um bairro de muita tradição entre os bares. Sabemos que é muita responsabilidade estar aqui”, diz André.


Mesmo recém-chegados ao espaço, pai e filho já apostaram num cardápio novo, seguindo o conceito de comida de boteco, e se lançaram no festival que atrai muita gente e requer preparo. Para a ocasião, eles criaram o prato “Mestre Adão, Maria Lira e Convidados” (R$ 39,90), que homenageia os artistas que dão nome ao prato e, sobretudo, a terra deles: o Norte de Minas.

“Estamos homenageando o Vale do Jequitinhonha, com itens como a carne de sol – que demora três dias para ficar pronta no bar – e o feijão-de-corda”, conta André. Acompanham esses ingredientes arroz, mandioca na manteiga de garrafa, banana-da-terra frita, ovo frito, farofa e salada.

*Estagiária sob supervisão da subeditora Celina Aquino

Anote a receita: Pastel de moqueca de tilápia do Peixinho da Ju

Pastel de moqueca de tilápia do Peixinho da Ju
Pastel de moqueca de tilápia do Peixinho da Ju Pádua de Carvalho/Divulgação


Ingredientes:

  • 400 g de tilápia;
  • 3 colheres de sopa de requeijão cremoso;
  • 3 colheres de sopa de pimentão vermelho;
  • 2 colheres de sopa de pimentão amarelo;
  • 3 dentes de alho picado;
  • 2 colheres de sopa de cebola;
  • ½ xícara de leite de coco;
  • Sal e pimenta-do-reino a gosto;
  • 1 colher de sopa de cebola;
  • 1 colher de sopa de coentro;
  • 1 tomate;
  • 2 colheres de sopa de azeite de dendê;
  • 1 litro de água (ou caldo de frutos do mar coado);
  • 2 colheres de sopa de manteiga ou margarina;
  • 1 colher de chá de sal;
  • 2 xícaras de chá de farinha de trigo;
  • Óleo (quanto baste para fritar);
  • Farinha panko (quanto baste para empanar).


Modo de fazer:

  • Para o recheio, cozinhe o peixe na água até ficar macio e reserve tanto o peixe quanto o caldo.
  • Em uma panela, adicione o azeite de dendê.
  • Em seguida, acrescente a cebola, os pimentões, o alho e o tomate picadinhos.
  • Deixe refogar.
  • Quando estiver refogando, adicione o peixe já cozido.
  • Mexa até que os sabores se misturem e o peixe fique desfiado.
  • Acrescente o leite de coco, o requeijão e o coentro.
  • Depois, coloque sal e pimenta e deixe cozinhar até que o recheio fique cremoso.
  • Para a massa, acrescente a água e os demais temperos junto com a manteiga ou margarina.
  • Espere levantar fervura e, em seguida, acrescente toda a farinha de trigo até que obtenha o ponto de massa desejado (espere que o trigo cozinhe e a massa solte do fundo da panela).
  • Para a montagem, molde a massa com o recheio de moqueca, empane na farinha de rosca e frite em óleo quente.

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Serviço

Bar Kxote (@kxotebar)
Rua José Faleiro, 219, Santa Helena
(31) 99462-6018
Quarta e quinta, das 17h às 23h; sexta, das 11h à 00h; sábado, das 11h às 22h; domingo, das 11h às 16h

O Barba (@barbazulbh)
Avenida Getúlio Vargas, 216, Funcionários
(31) 2535-3527
De segunda a sábado, das 11h à 00h

Sô Pedro (@sopedrobar)
Rua Alberto Cintra, 454, União
De segunda a sexta, das 10h às 23h30; sábado, das 11h às 23h; domingo, das 11h às 19h30

Peixinho da Ju (@peixinhodaju)
Avenida Saramenha, 765, Guarani
De terça a sábado, das 18h à 00h; domingo, das 11h às 16h

Bistrô Garagem do Gunda (@bistrogaragemdogunda)
Rua Alamanda, 170, Lindéia
(31) 99735-0606
Quinta, das 17h às 23h30; sexta e sábado, das 11h30 às 23h30; domingo, das 11h30 às 18h

Armazém Santa Tereza (@armazemsantaterezaoficial)
Rua Mármore, 593, Santa Tereza
Quarta e sexta, das 17h às 23h; sábado, das 13h à 00h; domingo, das 12h às 21h


*Estagiária sob supervisão da subeditora Celina Aquino 

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