
Deflação é boa notícia, mas não a ponto de mudar a taxa de juros
Segundo o IBGE, o comércio registrou em julho o quarto mês seguido de queda, com retração de 0,3% sobre junho. Resta saber se a deflação de agosto é um alívio t
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O registro de deflação (-0,11%) no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em agosto é uma boa notícia para os consumidores acostumados a conviver com aumento de preços no dia a dia, mas, mais uma vez, a acomodação da inflação ainda não permite ao Banco Central iniciar o processo de redução da Selic. Seja porque a inflação acumulada em 12 meses encerrados em agosto (5,13%) ainda está acima da meta, seja porque a deflação do mês veio pior do que a previsão do mercado (-0,15%), o consenso entre os especialistas é de que a inflação dos serviços e o núcleo da inflação não permitem ao BC cortar a taxa de juros, hoje em 15% ao ano.
“O IPCA de agosto surpreendeu negativamente o mercado com uma deflação de -0,11%, frente a expectativa de -0,15%. A abertura do índice também foi negativa. A difusão avançou de 50% para 57%, mostrando que o aumento nos preços foi mais difundido entre os grupos avaliados e a inflação de serviços e o núcleo apresentaram avanço na leitura acumulada de 12 meses”, avalia Sara Paixão, analista de Macroeconomia da InvestSmart XP. Para ela, o mercado de trabalho aquecido, o pagamento de precatórios entre julho e agosto e o avanço nas transferências fiscais são fatores que pressionam os preços mais ligados ao consumo.
A deflação de agosto não chega nem mesmo a alterar as projeções do mercado para o IPCA fechado deste ano. Igor Cadilhac, é economista do PicPay, diz que mantém a projeção de inflação deste ano em 4,9%. “O câmbio permanece relativamente estável, e as expectativas de inflação vêm apresentando melhora consistente, inclusive no longo prazo. Apesar disso, o quadro ainda é significativamente pressionado”, afirma Cadilhac. Ele lembra ainda, que, na média dos últimos três meses, em termos dessazonalizados e anualizados, as principais métricas seguem persistentemente acima da meta”. O teto da meta para este ano é 4,5%.
Para Pablo Spyer, conselheiro da Associação Nacional das Corretoras e Distribuidoras de Títulos e Valores Mobiliários, Câmbio e Mercadorias (Ancord), “a inflação subjacente ainda se mantém elevada – um sinal de que a desinflação ainda não se consolidou plenamente e requer cautela”. Para ele, o IPCA de agosto reforça a percepção de que “o Banco Central tem espaço para continuar calibrando a política monetária, de forma gradual e responsável, sem perder de vista os desafios fiscais”. A avaliação do mercado ainda é de que o início do ciclo de corte de juros deve ser no primeiro trimestre de 2026.
Para o setor produtivo, no entanto, esse é resultado já é suficiente para um afrouxamento da política monetária. “Vemos uma queda consistente que abre espaço para um afrouxamento da política monetária, porém o nível que nós temos hoje da taxa Selic é excessivamente alto, tendo em vista a conjuntura que estamos enfrentando”, afirma Felipe Queiroz, economista-chefe da Associação Paulista de Supermercados (Apas). Para ele, as expectativas indicam continuidade da redução dos preços de itens como alimentação, tanto em domicílio quanto fora.
“Nós estamos em uma conjuntura altamente desafiadora, com um cenário externo complexo. O mundo inteiro tem adotado uma política monetária muito mais comedida. Em contrapartida, nós estamos excessivamente radicais com a nossa política monetária. Isso está produzindo um efeito sobre o nível de atividade, sobre o PIB”, afirma Queiroz. Em agosto, as vendas do varejo tiveram queda de 1,5% de acordo com o Índice do Varejo Stone (IVS). Já segundo o IBGE, o comércio registrou em julho o quarto mês seguido de queda, com retração de 0,3% sobre junho. Resta saber se a deflação de agosto é um alívio temporário ou sinal de desaquecimento da economia.
No campo
171,5 milhões
de toneladas de soja devem ser colhidas na safra 2024/2025. O volume histórico representa aumento de 20,2 milhões de toneladas sobre a colheita passada, segundo estimativa da Conab
Golpes
Pesquisa da Netscout mostra que o Brasil disparou na liderança de ataques cibernéticos na América Latina no primeiro semestre. Segundo a Netscout, de janeiro a junho foram 1.070.492 ataques DdoS na América Latina, com o Brasil sozinho respondendo por mais da metade (550.550) e registrando um aumento de 54,03% em relação a igual período de 2024. Telecomunicações é o setor mais visado.
Recuperação
O número de empresas em recuperação judicial no Brasil chegoua 4.965 companhias com processos ativos, o que representa um aumento de 1,7%. O total, segundo o Monitor RGF de Recuperação Fiscal é o maior desde 2023. “O cenário ficou mais duro: além do crédito restrito e das altas taxas de juros, a instabilidade global aumentou”, afirma Rodrigo Gallegos, sócio da RGF e especialista em reestruturação.
As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.