Fred Melo Paiva
Fred Melo Paiva
DA ARQUIBANCADA

Era pra ter sido a semana dos carecas. E foi

É, meus amigos, mas haja peruca pra esconder tanta falha. A começar pela estranha escalação do nosso careca

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Eu tinha certeza de que a semana seria dos carecas. Fiz até promessa: se o Galo passasse, entraria na onda da pouca telha, aquela tosa que só experimentara uma vez, a contragosto, quando passei no vestibular. Já tinha até guardado uma sobra da cera inglesa para ardósia, com a qual pretendia dar um lustro na carcaça quando saísse para a dupla celebração da histórica quinta-feira: o Bozo condenado e o Galão classificado. Haja fígado para tão pouco cabelo.

O sinal de alerta acendeu já na quarta-feira, quando o careca foi obscurecido por um senhor de peruca. Uma bela peruca, meio Elvis, meio Justus. À medida em que esse senhor avançava em sua falação, a peruca cada vez mais lhe caía como luva. Havia um mistério sobre o que de fato se passava em sua cabeça. Talvez houvesse algo a esconder, e por isso aquele voto magnístico. Era nítido, também, que o homem da peruca vivia cheio de vaidade. Fui reunindo os sinais. Por fim, o senhor de peruca condenou o mordomo. Um crime sem mandante. Fui dormir com o sabor amargo da careca derrotada. Sinais.

Na quinta-feira estava plenamente recuperado. Não seria um senhor de peruca a encher minha cabeça de bobagens. Ademais, naquela peleja jogavam-se os pontos corridos, e bastava à Cármen Lúcia empurrar a bola pra dentro, até minha avó fazia. Terminado seu voto, o careca tava pimpão novamente. Vi como bom agouro. “Cármen é atleticana?”, perguntei a um amigo. “Cruzeirense.” Ah, meu Deus, tadinha. Sinais.

De todo modo, o careca havia recuperado seu elã. Peruca, por seu turno, passara uma máquina zero em sua reputação, já repleta de falhas, redemoinhos e entradas. Voltei a acreditar na semana dos carecas. Refiz a promessa, uma oportunidade de eliminar os mullets que cultivo involuntariamente, além de variar o grisalho peruqueiro que se abateu sobre a minha pessoa, conferindo esse ar de roqueiro de Harley Davidson capaz de enterrar com a autoestima deste velho punk comunista.

Pois bem, procurei relevar o fato de que uma cruzeirense havia imposto o 3 a 1, justamente o placar que precisaríamos naquela mesma noite, quando o segundo careca em questão deveria fazer o seu julgamento, escolher a melhor estratégia, e por fim partir para o ataque como um golpista do 8 de janeiro.

É, pessoal, eu sou um cara estranho, e enquanto me aplicava para a festa do segundo careca com o pessoal da Arraial Galo, o consulado do Galo em Arraial d’Ajuda, ouvia pelo radinho o voto do Zanin. Um 4 a 1 tranquilo, nada a ver com aquele Flamengaço Classificadaço. Pensei cá com meus esfumaçados botões, já a sentir a brisa do mar em minha cabeça de ovo, dois ou três chopes em seu interior: vai ser 4 a 1 pra nós, eu tava careca de saber.

Quando me sentei em frente à tevê, já o fiz com ares de Che Guevara ao partir de Sierra Maestra: hasta la victoria siempre! Tava pleno daquela convicção de democrata vencedor, certo de que o segundo careca haveria de completar o serviço do primeiro naquele dia histórico. Já podia ver o repórter da Globo na cobertura do Carnaval temporão: “A festa não tem hora pra acabar”.

É, meus amigos, mas haja peruca pra esconder tanta falha. A começar pela estranha escalação do nosso careca. Onde estava com a cabeça ao sacar Alan Franco? Gomes é Gomes, não adianta querer ser Igor. Pra bom entendedor, meia palavra bas. No caso de Gomes, ta.

E a malemolência, quer dizer, a paumolência desse time? Que coisa. Nem a pilha desencapada do professor foi capaz de ligar os caras. No final, o careca vitorioso tava sentado no banco do inimigo. Caceta! Se eu tivesse me antecipado e feito a tosa antes da peleja, agora estaria vasculhando a Shopee em busca da peruca perfeita. Meio Joey Ramone, meio Justus. O atleticano não tem paz.

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