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Por Alexia Diniz
Todo mundo já ouviu falar em milhas aéreas. Aquela história bonita: você viaja, acumula pontos, depois troca por outra viagem e pronto, férias quase de graça. Só que, na prática, a realidade é bem diferente.
Hoje, as milhas fugiram das asas dos aviões e pousaram em praticamente tudo: cartão de crédito, delivery, farmácia, supermercado e, agora, até no estacionamento do shopping. A Multiplan, dona de shoppings de luxo como o BH Shopping e o Morumbi, lançou seu próprio programa de milhagem para competir com rivais. Ou seja, até comprar uma calça jeans de R$1.000 agora “rende pontos”.
Mas afinal: programa de milhagem vale a pena ou é só mais uma forma de tirar milhas do seu bolso?
O que é um programa de milhagem?
Se formos direto ao ponto, programa de milhagem é um jeito de te fidelizar. Você gasta, acumula pontos (ou milhas), e depois troca por benefícios. Pode ser passagem aérea, desconto em produtos, experiências exclusivas ou, no caso dos shoppings, até serviços VIP dentro do próprio centro de compras.
A lógica é simples: quanto mais você gasta, mais pontos ganha. Parece um “cashback”, mas cheio de regrinhas escondidas.
É como se o shopping ou o banco dissesse: “fica comigo, amor, eu prometo que cada vez que você gastar, eu te devolvo um mimo”. Mas, no fim, você precisa gastar muito para receber pouco.
Como funcionam os programas de milhagem dos shoppings
A Multiplan lançou recentemente um programa para que os clientes acumulem pontos comprando em suas lojas, restaurantes e até pagando estacionamento. Esses pontos podem ser trocados por experiências exclusivas, descontos ou benefícios no próprio shopping.
Na prática, é o mesmo modelo que já vimos em cartões de crédito e companhias aéreas, mas agora aplicado ao “templo do consumo”. É como se o shopping tivesse virado um aeroporto: você entra, passa no duty free (a loja de grife), toma um café inflacionado e, no final, sai com pontos para resgatar uma massagem no spa do próprio shopping.
A ideia é boa para quem já consome ali. Mas convenhamos: se você tiver que gastar mais só para juntar pontos, o shopping estará vencendo o jogo, e você sairá em prejuízo.
Os programas de milhagem tradicionais (aéreas e cartões)
Historicamente, os programas de milhagem nasceram nas companhias aéreas. A lógica era simples: viajou bastante? Então ganha o direito de voar de novo sem pagar. Aos poucos, os bancos perceberam que poderiam copiar o modelo nos cartões de crédito.
Hoje, quando você usa o cartão para pagar a pizza de sexta-feira, acumula pontos que podem ser transferidos para programas de milhagem, como Smiles (Gol), Latam Pass ou TudoAzul.
O problema? Para conseguir uma passagem “gratuita” de ida e volta para a Europa, muitas vezes você precisa gastar o equivalente ao PIB de uma microempresa.
E ainda tem as pegadinhas: pontos que expiram, taxas de transferência, promoções relâmpago que acabam em segundos… sem falar que os assentos disponíveis para resgatar milhas parecem sempre desaparecer na hora que você precisa.
Vale a pena acumular milhas?
Depende. Se você já usa bastante cartão de crédito e concentra gastos nele, sim, pode valer a pena transferir os pontos para um programa de milhagem.
Mas o risco é cair na armadilha de gastar mais só para acumular pontos. É como comprar 5 pizzas por semana porque “estão dando uma de graça na sexta”.
o Educando Seu Bolso já mostrou como acumular milhas de forma inteligente:
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Concentre gastos em um único cartão.
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Aproveite promoções de transferência bonificada (tipo 80% a mais de milhas).
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Não compre só para acumular, milhas não deve ser desculpa para descontrole financeiro.
Melhor cartão para acumular milhas
Outra armadilha é acreditar que todo cartão “dá milhas”. Nem sempre. Os cartões mais básicos quase não acumulam pontos. Já os cartões premium oferecem mais pontos por dólar gasto, mas exigem renda mínima alta e anuidade pesada.
O Educando Seu Bolso fez uma análise detalhada sobre isso: muitas vezes, pagar anuidade alta só se justifica se você realmente acumular e usar bem as milhas. Se não, é dinheiro jogado fora.
É como assinar TV a cabo só para assistir a um único canal: não faz sentido.
Vender milhas: dá para transformar pontos em dinheiro
Outra estratégia que virou moda é vender milhas. Existem plataformas que compram suas milhas e te pagam em dinheiro. É uma forma de não deixar expirar e ainda ganhar um trocado.
Já mostramos como funciona, mas aqui também vale a atenção:
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O valor pago por milha não é tão alto assim.
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Há riscos de fraudes em sites pouco confiáveis.
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E, claro, você pode acabar vendendo barato o que poderia render mais numa passagem.
Ainda assim, é melhor vender do que deixar expirar. É tipo achar moeda de R$1 na gaveta: pode não parecer muito, mas somando dá um lanche.
As pegadinhas dos programas de milhagem
Todo programa de pontos tem o mesmo calcanhar de Aquiles: a validade. A maioria das milhas expira entre 24 e 36 meses. Parece muito tempo, mas passa voando. E se você esquecer, é como se tivesse dado dinheiro de presente para a companhia aérea.
Outro problema é a desvalorização. Uma passagem que custava 30 mil milhas em 2018 pode custar 60 mil hoje. As empresas ajustam as tabelas sem aviso, e você acaba precisando gastar o dobro de pontos pelo mesmo benefício. É como inflação, só que na versão “milheiro”.
Programas de milhagem de shoppings: vale a pena?
Voltando ao caso da Multiplan, a grande dúvida é: faz sentido acumular pontos no shopping?
A resposta é parecida com a dos cartões: só vale a pena se você já consome lá ou se você é milionário. Se você tiver que mudar seus hábitos, atravessar a cidade para comprar uma calça que poderia achar mais barata no centro, aí já perdeu.
No fim, o shopping está usando o programa de pontos para te prender ali dentro, como um jogo de tabuleiro: cada passo que você dá, acumula pontos, até não querer sair mais.
Conclusão: programa de milhagem é vantagem ou ilusão?
Programas de milhagem são ferramentas de marketing. Funcionam muito bem para as empresas — já para o consumidor comum, quase nunca. Especialmente em casos como o da Multiplan, onde os benefícios parecem feitos para quem é muito rico. Afinal, quem tem grana para gastar dezenas de milhares em compras de luxo todo mês só para acumular pontos?
A realidade é que a maioria dos brasileiros mal consegue fechar o mês sem parcelar a fatura do cartão. Para esse público, esses programas não passam de vitrine bonita que não resolve problema nenhum. Na prática, servem mais para fidelizar os mais ricos do que para democratizar benefícios.
Não quer dizer que todo programa seja inútil: dá para economizar, viajar mais barato ou até vender milhas. Mas isso só vale para quem já tem disciplina financeira, planeja os gastos e não se deixa levar pela tentação de gastar mais para “ganhar pontos”.
A dica é clara: aproveite os pontos se eles já vierem de gastos que você teria de qualquer forma. Mas não caia na ilusão. Porque, no fim das contas, nenhuma viagem para Cancún compensa passar o resto do ano atolado no cartão de crédito.
As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.