
A espiral da desconfiança do pós-julgamento
Tarcísio e Bolsonaro têm objetivos diferentes, mas estão juntos em simbiose. Tarcísio acredita que sem Bolsonaro não se viabilizaria eleitoralmente
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Tarcísio vinha se equilibrando numa corda elástica. Depois do palanque de Sete de Setembro, os seus apoiadores da elite produtiva e financeira estão em alerta e talvez se indaguem: seria o caso de buscar outra alternativa mais ao Sul, como no Paraná? Uma janela de oportunidade se abre para Ratinho Junior (PSD), que convenientemente, assim como Ronaldo Caiado (União), passou longe da avenida Paulista na celebração da independência do Brasil.
Na visão de parte significativa do setor produtivo brasileiro, a experiência pregressa com Bolsonaro, amplamente exposta no voto do relator Alexandre de Moraes, expõe, com amplo conjunto probatório, um presidente da República maquinando, a partir de junho de 2021, como burlar e esticar os limites das regras do jogo democrático.
Tarcísio e Bolsonaro têm objetivos diferentes, mas estão, neste momento, juntos em simbiose. Tarcísio acredita que sem Bolsonaro não se viabilizaria eleitoralmente para concorrer à Presidência da República, principalmente se a família lançar qualquer nome na corrida. Abraça o bolsonarismo radical, sabendo do desgaste que acumulará com setores moderados.
Já Bolsonaro conta agora com o apoio de Tarcísio para desgastar o STF – já inserido numa bem-sucedida armadilha de enquadramento, que desqualifica previamente junto à militância bolsonarista, a esperada condenação pela narrativa da “perseguição”. Diante do pior cenário posto ao ex-presidente da República – a condenação, que se soma à inelegibilidade –, Bolsonaro busca distribuir a “vacina” da vitimização para manter-se vivo na política eleitoral.
Mas entre o pior cenário e a baixa probabilidade de alcançar o melhor cenário – a anistia criminal e a reversão da inelegibilidade –, a família Bolsonaro segue lutando. Os Bolsonaros movem um leque de estratégias: a intervenção da potência ao Norte, com ameaças sobre os setores produtivos, esperando que estes se lancem contra o STF; a imposição sobre os próprios ministros dos cancelamentos de vistos norte-americanos e, para o relator, a Lei Magnitsky.
Adicionalmente, Bolsonaro quer gente nas ruas. Conta com o pastor e a esposa evangélica para mobilizar fiéis, num coquetel de fé e política. Bolsonaro usa a percepção das ruas para também pressionar o Congresso Nacional pela aprovação de uma suposta anistia, ampla, geral e irrestrita. Inconstitucional, se aprovada, levará mais desgaste ao STF.
Bolsonaro sabe que será difícil ser o candidato de seu campo em 2026. E também sabe que o Centrão e muitos de seus apoiadores constróem a alternativa Tarcísio ou partirão para outro nome. Não é o que o ex-presidente e sua família desejam: assim como no lulismo, nenhuma liderança pode crescer à sombra do bolsonarismo. Aí está a fonte de tensão, que no momento oportuno, pós-julgamento, vai explodir em fogo amigo sobre Tarcísio e, por que não dizer, Ratinho Junior, que tem potencial para se firmar como uma nova alternativa de “equilíbrio”. Como os jacarés à espera da grande travessia dos gnus nas savanas africanas, em qualquer cenário, Gilberto Kassab estará à beira do rio.
Galeria de retratos
Quatro anos depois de ter deixado a Procuradoria-Geral de Justiça, Antônio Sérgio Tonet terá o seu retrato inaugurado nesta quarta-feira. Quem convida é o procurador-geral de Justiça, Paulo de Tarso Morais Filho, e Cássia Virgínia Serra Teixeira Gontijo, que é diretora do Centro de Estudos e Aperfeiçoamento Funcional (CEAF) e presidente do Conselho Curador do Memorial do Ministério Público de Minas Gerais. O motivo do atraso: Tonet e Jarbas Soares, ex-procurador-geral de Justiça, são adversários na política interna da instituição.
Prisões
Durante a exposição de seu voto no julgamento da trama golpista, o ministro Alexandre de Moraes mencionou a minuta recebida pelo então presidente Jair Bolsonaro que defendia um golpe de Estado e a prisão de desafetos do bolsonarismo. “Essa minuta, todos se recordam, previa a prisão de alguns ministros do Supremo e do presidente do Senado Federal, o senador Rodrigo Pacheco, que sempre apoiou a democracia, o Tribunal Superior Eleitoral e o Supremo Tribunal Federal”, afirmou Moraes. Pacheco era o presidente do Congresso Nacional à época e contornou várias crises institucionais pelos arroubos de Bolsonaro, à frente do governo federal.
Pax mineira
Depois de refregas com o Tribunal de Contas do Estado (TCE), o vice-governador Mateus Simões (Novo) selou a paz. Ele estava entre os 24 homenageados pelo TCE com o Colar do Mérito da Corte de Contas Ministro José Maria de Alkmim, a principal honraria da corte. Em sua edição de 2025 celebra os 90 anos do Tribunal. Além de Mateus Simões, também na lista de homenageados, o ministro do STF Alexandre de Moraes. Não compareceu porque estava em julgamento, mas retornará em outubro.
Que golpe?
Ao comentar a ausência de Alexandre de Moraes, Mateus Simões aproveitou para registrar a crítica: “Imagino o desgosto que teria sido para mim se o ministro Alexandre de Moraes viesse receber a medalha dele aqui. Ele perdeu completamente a noção de qual é o papel do Judiciário no Brasil. Aqui em Minas ninguém se arvora ao mesmo tempo de vítima e algoz para manifestação como vimos, de prender um presidente da República por 40 anos por um crime que não consegui até agora visualizar, desequilibrando o que é a ordem democrática brasileira”.
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Escola e assassinato
O assassinato do policial penal Euler Oliveira Pereira Rocha durante a escolta de um detento dentro do Hospital Luxemburgo, em Belo Horizonte, expõe as más condições de trabalho da categoria, especialmente quanto à jornada sem revezamento para descanso e à falta de efetivo. A avaliação foi feita por servidores em audiência aos deputados da Comissão de Segurança Pública na Assembleia Legislativa, nesta terça-feira. A escolta de presos deve ser feita pelo menos em dupla de policiais penais, mas na madrugada de 3 de agosto Euler Oliveira Pereira Rocha foi morto no momento em que seu colega estaria ausente, segundo afirmou o diretor-geral do Departamento Penitenciário de Minas Gerais (Depen-MG), Leonardo Mattos Badaró.
As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.