Ana Mendonça
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EM MINAS

Bolsonarismo está muito vivo em BH

Existem mais de uma dezena de projetos de viés abertamente conservador em tramitação na Câmara Municipal de Belo Horizonte

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“É nas câmaras que a gente sobrevive.” A frase, dita ao EM Minas por um bolsonarista logo após a condenação de Jair Bolsonaro (PL) a 27 anos e 3 meses de prisão, ecoa o chamado do próprio ex-presidente feito em 2024: “precisamos acertar o Norte e levar conservadores a disputar prefeituras e câmaras municipais”. Se o Supremo Tribunal Federal (STF) decretou o fim da carreira política do líder da extrema direita, são os parlamentos locais que terão de preservar sua essência.


A decisão da Primeira Turma do STF foi inédita: pela primeira vez, o Brasil condenou um ex-presidente por tentativa de golpe, cicatrizando uma ferida aberta desde 1964. Foi a vitória da democracia sobre seu trauma. Mas, enquanto o país celebra, nas capitais o conservadorismo se reorganiza.


Em Belo Horizonte, o paradoxo é evidente. O voto da ministra Cármen Lúcia, montes-clarense e moradora da capital, garantiu a condenação de Bolsonaro. Da cidade onde vive partiu a voz que fechou uma lacuna histórica. No mesmo território, porém, ergue-se uma das câmaras municipais mais alinhadas ao conservadorismo.


A coluna apurou que existem mais de uma dezena de projetos de viés abertamente conservador em tramitação na Câmara Municipal de Belo Horizonte. A Lei Anti-Rap tenta censurar o funk e o rap; outro projeto proíbe crianças no Carnaval e em paradas LGBT+. Já aprovada, a obrigatoriedade da leitura bíblica nas escolas afronta a autonomia pedagógica.


Há iniciativas para impor a execução diária do Hino Nacional, constranger mulheres com cartazes sobre aborto, criar atestados de óbito para fetos, discriminar atletas trans e até militarizar a Guarda Municipal, rebatizada como “Polícia Municipal”. Como gesto simbólico, a Câmara aprovou ainda uma moção contra Alexandre de Moraes, sem efeito jurídico, mas com a função clara de manter vivo o imaginário de confronto com as instituições.


No centro desse movimento está a Frente Parlamentar Cristã, agora presidida por Flávia Borja (DC), com Uner Augusto (PL) na vice e Wanderley Porto (PRD) como secretário. São 25 vereadores no grupo – número suficiente para aprovar praticamente qualquer projeto em tramitação. A primeira bandeira da nova formação foi a “proteção às igrejas”. Flávia resume a lógica dizendo que seus membros seguem “o manual de vida que é a Bíblia Sagrada”.


Esse poder numérico se soma a uma posição estratégica: a frente controla quatro das cinco cadeiras da Comissão de Legislação e Justiça (CLJ), considerada a mais importante da Casa por ter o poder de barrar projetos considerados inconstitucionais. O resultado é simples: projetos conservadores dificilmente encontram resistência nos trâmites internos.


Nos bastidores, a estratégia bolsonarista é clara: transformar as câmaras em trincheiras de resistência. Cada discurso vira corte de vídeo, cada projeto se converte em manchete, cada moção ultrapassa os limites da cidade. Nas redes, a lógica se repete: narrativas de perseguição e denúncias de ameaças de morte, sempre com a intenção de colocar a direita como vítima de um sistema opressor.


Enquanto Bolsonaro recorre para evitar a Papuda, a política municipal se converte em palco nacional. Vereadores agem mais como influenciadores digitais do que como legisladores. É nesse espaço que o bolsonarismo resiste, encontra brecha e preserva o discurso autoritário, mesmo após a derrota no Supremo.


Nos bares, a esquerda celebrava com Dona Ivone Lara. Em BH, o bolsonarismo ficou em silêncio, água benta nas taças e o espectro de 8 de janeiro reencarnado em terno e gravata. Pela primeira vez, o Brasil condenou aqueles que atentaram contra a democracia, mas ainda não aprendeu a discernir os rituais de sua lenta corrosão.

 

 

Momento conservador

O encontro que reuniu lideranças da direita mineira no bairro Itapuã, em Belo Horizonte, serviu mais para coordenar ânimos do que para anunciar mobilizações imediatas. Depois da condenação de Jair Bolsonaro (PL) a 27 anos de prisão, o grupo decidiu aguardar. A avaliação é que qualquer ato agora poderia sair menor do que o esperado e enfraquecer a narrativa de resistência. A linha traçada é clara: só haverá convocação quando o Supremo bater o martelo sobre a ida do ex-presidente para o regime fechado.

 

 

Blindado

O deputado Nikolas Ferreira (PL-MG) reforçou a segurança particular após o assassinato do ativista de direita Charlie Kirk nos Estados Unidos. Segundo o parlamentar, ele tem recebido novas ameaças e acionou a Polícia Federal. A coluna apurou, no entanto, que as intimidações a Nikolas já vinham ocorrendo há algum tempo. A diferença é que a morte de Kirk funcionou como gatilho: impactado, o deputado decidiu contratar um grupo de proteção mais robusto.

 

 

Prisão

A Polícia Federal prendeu em flagrante um estudante do Espírito Santo acusado de ameaçar de morte o deputado Nikolas Ferreira pelas redes sociais. A cidade da ocorrência e a identidade do preso não foram divulgadas.

 

 

Ex-governador do Ceará

Ciro Gomes (PDT) estará em Contagem na próxima quinta-feira (18/9) para uma palestra na Faculdade de Direito de Contagem (Fdcon), sem outros compromissos na agenda.

 

 

Professores

A Câmara de BH aprovou, em segundo turno, o projeto de Helton Júnior (PSD) que estende a meia-entrada a professores da educação básica. Com 35 votos, a medida foi vista como um gesto de afago à categoria, que agora aguarda a caneta do Executivo para virar lei. “Oferecer aos professores mais acesso à cultura e ao lazer é fortalecer o papel fundamental que eles desempenham na formação das futuras gerações”, disse o vereador.

 

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Luto na política

Morreu nessa sexta-feira (12/9), aos 89 anos, o ex-prefeito de Juiz de Fora Tarcísio Delgado. Advogado e político de longa trajetória, foi vereador, deputado estadual, deputado federal, secretário de Estado e prefeito do município em três mandatos. Ele estava internado no Hospital Monte Sinai com pneumonia e faleceu por volta das 15h.

 

As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.

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