Tragédia na Lapa expõe falhas na fiscalização de galpões em São Paulo
O incêndio levanta o debate sobre a regularidade dos alvarás, a estrutura de prevenção e a capacidade do poder público de fiscalizar áreas industriais
compartilhe
Siga noUm incêndio de grandes proporções que atingiu um galpão industrial na Lapa, zona oeste de São Paulo, nesta semana, fez mais do que destruir uma estrutura. As chamas, que geraram uma densa coluna de fumaça vista a quilômetros de distância, acenderam um alerta sobre a segurança e a fiscalização de milhares de imóveis comerciais e industriais espalhados pela capital paulista.
A rápida propagação do fogo e a intensa mobilização do Corpo de Bombeiros para controlar o sinistro colocaram em xeque a efetividade das vistorias e a regularidade de alvarás de funcionamento. O episódio levanta um debate urgente: a cidade está preparada para prevenir tragédias como essa ou apenas para reagir a elas?
Ver essa foto no Instagram
O incidente na Lapa não é um fato isolado, mas um sintoma de um problema crônico em grandes metrópoles. A complexa teia de regulamentações, a dificuldade de fiscalizar um número imenso de estabelecimentos e a própria antiguidade de muitas construções criam um cenário de vulnerabilidade. Cada galpão que opera sem as devidas licenças ou com equipamentos de segurança inadequados é um risco em potencial para funcionários e para a vizinhança.
A discussão vai além da obtenção do Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros (AVCB), documento essencial que atesta as condições de segurança contra incêndio. A questão central é a manutenção dessas condições. Um alvará emitido anos atrás não garante que o local continue seguro hoje, especialmente se houve mudanças na ocupação ou no tipo de material armazenado.
O que o incêndio revela sobre a fiscalização?
A primeira pergunta que surge após um evento como este é sobre a regularidade do imóvel. O galpão possuía todas as licenças necessárias para operar? A documentação estava em dia? A resposta para essas questões define se o problema foi um acidente imprevisível ou uma consequência direta da negligência e da falha no sistema de controle do poder público.
A fiscalização de imóveis comerciais em São Paulo é uma tarefa de enorme complexidade. Envolve diferentes órgãos da prefeitura e do governo estadual, cada um com suas responsabilidades. Enquanto o Corpo de Bombeiros avalia as condições de prevenção e combate a incêndios, a administração municipal verifica o uso do solo e as licenças de funcionamento.
O desafio está na capacidade de inspecionar de forma proativa, e não apenas reativa, após uma denúncia ou um acidente. A quantidade de fiscais disponíveis muitas vezes é insuficiente para cobrir a totalidade dos estabelecimentos, o que abre brechas para que irregularidades passem despercebidas por longos períodos.
Outro ponto crítico é a adequação das estruturas. Muitos galpões na cidade foram construídos décadas atrás, sob outras legislações. Adaptá-los às normas atuais de segurança, com a instalação de sprinklers, detectores de fumaça e rotas de fuga adequadas, exige investimentos que nem sempre são realizados pelos proprietários.
O histórico de incidentes em São Paulo
A capital paulista carrega cicatrizes de grandes incêndios que marcaram sua história e que, em sua maioria, foram atribuídos a falhas de segurança e fiscalização. Tragédias como as dos edifícios Andraus, em 1972, e Joelma, em 1974, mudaram profundamente a legislação de segurança contra incêndio no país, tornando-a mais rigorosa.
Mais recentemente, outros casos, como o incêndio no Memorial da América Latina e no Museu da Língua Portuguesa, reforçaram a necessidade de vigilância constante, especialmente em locais de grande circulação ou que abrigam patrimônios de valor inestimável. Cada um desses eventos serviu como um doloroso aprendizado.
O incêndio na Lapa se insere nesse contexto como um aviso de que a atenção não pode se concentrar apenas em prédios icônicos ou de grande circulação. Zonas industriais e galpões de armazenamento, muitas vezes localizados próximos a áreas residenciais, representam um risco silencioso que precisa ser gerenciado com o mesmo rigor.
A resposta das autoridades e da sociedade a este novo incidente determinará se ele será apenas mais um número nas estatísticas ou um catalisador para mudanças efetivas. A revisão de processos de fiscalização, o uso de tecnologia para monitoramento e a responsabilização de proprietários são caminhos que precisam ser discutidos para evitar que a fumaça na Lapa se dissipe e o problema seja, mais uma vez, esquecido.
Por que o incêndio na Lapa é tão significativo?
Ele vai além do dano material. O evento simboliza uma falha sistêmica na prevenção e fiscalização de imóveis industriais em áreas urbanas.
Sua importância está em expor o risco constante a que moradores e trabalhadores estão submetidos perto de locais que podem não cumprir as normas de segurança.
Quais são as principais falhas de segurança apontadas?
O debate se concentra na validade e atualização do Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros (AVCB), documento que atesta a segurança do local.
Questiona-se também a existência e o funcionamento de equipamentos essenciais, como hidrantes, extintores, alarmes e rotas de fuga desobstruídas.
Como funciona a fiscalização de imóveis comerciais em São Paulo?
A fiscalização é dividida entre a prefeitura, que cuida do alvará de funcionamento e uso do solo, e o Corpo de Bombeiros, responsável pela segurança contra incêndio.
O principal desafio é a capacidade de realizar vistorias periódicas em milhares de estabelecimentos, o que torna o sistema mais reativo do que preventivo.
Existe um risco para moradores de áreas próximas a galpões?
Sim. A proximidade entre zonas industriais e residenciais aumenta a vulnerabilidade da população a acidentes com fogo, fumaça tóxica e até explosões.
A mistura de usos do solo, comum em bairros antigos como a Lapa, exige um controle ainda mais rigoroso para garantir a segurança de todos.
O que pode mudar após este incêndio?
Episódios de grande repercussão costumam pressionar o poder público a rever e aprimorar suas políticas de fiscalização e segurança urbana.
Espera-se um aumento no rigor das vistorias, a atualização de legislações e uma maior conscientização dos proprietários sobre suas responsabilidades.